Vamos lá! Nunca me posicionei publicamente sobre o Ato Médico e - TopicsExpress



          

Vamos lá! Nunca me posicionei publicamente sobre o Ato Médico e o Programa Mais Médicos, pois existem objetivos obscuros deste governo que ultrapassam negativamente a vontade real de fazer a saúde pública deste país funcionar. Entretanto ao ler o post do colega Alex Bortotto Garcia, achei que precisava me manifestar, considerando que o mesmo ocupa uma função pública, tal qual como eu, em uma Secretaria que acima de tudo prevê o trabalho multiprofissional. Colega? Sim. Um colega porque, apesar de um posicionamento extremamente corporativista, eu ainda acredito em EQUIPE e em DEBATE RESPEITOSO. Alguns itens a considerar: 1. A Lei que regulamenta a profissão de médico no país em seu texto original apresentava muitas incoerências com os objetivos da saúde pública no país (como faríamos, por exemplo, a prescrição dos CUIDADOS DE ENFERMAGEM se o artigo que previa que a prescrição terapêutica era atividade exclusiva dos médicos fosse mantido com esta redação? Ora, cuidados de enfermagem fazem parte da terapêutica de qualquer paciente. Um exemplo desta impossibilidade, caso a lei tivesse sido aprovada em seu texto original: prescrição de mudança de decúbito de 2/2h como medida preventiva ao diagnóstico de risco de perda de integridade de pele relacionado a restrição ao leito. Como faríamos, por exemplo, com as campanhas de vacinas caso o artigo que previa que para todo e qualquer procedimento invasivo haveria necessidade de prescrição médica fosse mantido com esta redação?). Ao vetar, a presidente despertou na categoria médica o mais profundo sentimento de revolta e de querer dar o troco a qualquer custo. Ao invés de a categoria se unir e entender os motivos técnicos dos vetos e propor nova redação que pudesse unir classes e defender seus interesses simultaneamente (O Dr Salvador Miranda fez um post brilhante como sugestão), os médicos passaram a brigar isoladamente contra todas as outras categorias, denegrindo os bons profissionais, nominando-os como defensores do charlatanismo. Assim como meu nobre colega. Ora! O objetivo do governo estava alcançado. Fragmentar ainda mais a saúde e conseguir colocar a população contra os profissionais que ficam se degladiando em torno de uma única lei. 2. O que seria charlatanismo? Pelo dicionário online da língua portuguesa seria "Exploração da credulidade pública; atitude própria de charlatão". Nobre colega, afirmo com todas as letras que os enfermeiros NÃO se julgam médicos. Além de NÃO explorarem a fé do público o qual eles atendem. Eles não recebem um usuário em seu consultório se nominando médicos, se apresentando como doutores SEM ter título de doutorado. Os mesmos possuem uma Lei de Exercício Profissional desde 1986, que já foi atualizada algumas vezes para acompanhar a evolução da grade curricular dos cursos e para acompanhar a evolução dos programas de saúde pública, nacionais e internacionais. Os enfermeiros NÃO diagnosticam porque a lei que regulamenta o exercício da medicina foi vetada. Eles diagnosticam porque a Lei do Exercício Profissional que o regulamenta prevê que são atividades PRIVATIVAS do enfermeiro O DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM e A PRESCRIÇÃO DE ENFERMAGEM. 3. A nossa Lei do Exercício Profissional nos garante desde 1986 que podemos atuar prescrevendo medicamentos e diagnosticando doenças em casos específicos e normatizados. NÃO com o objetivo de se “sentirem” os médicos das instituições de saúde pública. Mas sim porque órgãos internacionais de saúde pública identificaram em nossa grade de ensino curricular, conhecimentos técnicos suficientes que garantam uma atuação segura perante os usuários e que auxiliem em situações de gargalos da saúde pública. Em Campo Grande especificamente, houve grande discussão com CRM e COREN para as normatizações ministeriais serem publicadas conforme solicitação do Ministério Público Estadual. Esta garantia, eu lhe afirmo, NÃO é o objetivo principal de nosso exercício profissional. Foi-nos atribuída esta função de forma compartilhada com o profissional médico após anos de análises de sistemas de saúde pública do mundo inteiro e após análise da nossa grade curricular de formação. Esta política (apartidária, diga-se de passagem) faz parte de uma estratégia mundial para o enfrentamento de gargalos na saúde pública. Gargalos estes que apenas o profissional médico não soluciona. Não precisamos ir longe. Há quanto tempo mesmo estamos sem profissional médico na UBSF Aero Itália? Quantas equipes de saúde da família em Campo Grande não conseguiram expandir mesmo por falta de profissionais médicos? Em recente entrevista ao site da BBC em Genebra, diretora do Programa de Saúde Global do Instituto Universitário de Altos Estudos Internacionais, Ilona Kickbusch afirmou: O Ministério da Saúde brasileiro está focando excessivamente na falta de médicos e deveria seguir o exemplo de países que investiram na formação de agentes comunitários e enfermeiras como forma de preencher gargalos no atendimento à população. Veja bem! Não estou falando de um estudioso de Cuba. Estou citando a Suíça!!!! 4. Quando o colega aborda a questão de ganharmos mais dinheiro, em que se pauta? O salário dos enfermeiros na rede pública de saúde não aumentou devido às normatizações aprovadas no ano passado. O aumento fornecido (de forma diferenciada da categoria médica diga-se de passagem) foi relacionado ao fato de sermos funcionários públicos. Esta modalidade de prescrição de medicamentos e diagnósticos de doenças não é legalizada para que atuemos como autônomos, assim como os médicos. É explícito na nossa lei do exercício profissional que somente podemos atuar nestas atividades em instituições onde existam PROTOCOLOS DE SAÚDE PÚBLICA ou PROTOCOLOS DA INSTITUIÇÃO EMPREGADORA. Explique-me: como ganharíamos mais? A atuação do enfermeiro como profissional autônomo é garantida pela nossa lei do exercício profissional considerando o exercício de atividades que nos são EXCLUSIVAS: CONSULTA DE ENFERMAGEM, DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM E PRESCRIÇÃO DE CUIDADOS DE ENFERMAGEM. Os conceitos de cada um estão previsto em diversas resolução do COFEN; 5. De toda sua fala, existe algo que concordamos: o equívoco do Programa Mais Médicos. Como mencionei acima em diversas unidades de saúde da nossa cidade não possuímos médicos para prestar assistência como parte integrante da equipe multiprofissional. Concordo com o colega quando ele coloca que a vinda de mais profissionais médicos não solucionará este gargalo. O que piora ainda mais a situação é vir médicos sem comprovação de qualidade na formação. Entendo que a dificuldade de lotação de médicos em alguns locais está diretamente ligada à falta de logística adequada (falta, não ausência) e ausência de um plano de remuneração digno e justo. E isso não é um problema local. É uma AUSÊNCIA DE POLÍTICA NACIONAL PARA RECURSOS HUMANOS DA SAÚDE. Existe plano de carreira neste país para o Judiciário e para a Fiscalização. Quando um concurseiro passa em um concurso de algum TJ da vida ou para a Receita Federal, ele vai para qualquer lugar deste país porque sabe que terá garantido seu salário, garantido possibilidade de mudança após três anos de exercício profissional e garantido progressão salarial conforme melhora na sua formação. E na saúde? O que temos neste país? Uma política de municipalização que em sua origem filosófica atende a todos os requisitos operacionais, porém na manutenção do vínculo da equipe de profissionais de saúde com a comunidade apresenta fragilidade significativa. E isto não é apenas para o profissional médico. É para a EQUIPE multiprofissional. Porque não criar um plano para estes profissionais? PORQUE NÃO INTERESSA PARA MUITOS ATORES (além do governo) UM PLANO DE SAÚDE PÚBLICO QUE SEJA RESOLUTIVO. O capitalismo não convive com isso. Além disso, aumentar o número de médicos sem planejar o aumento dos demais profissionais e da estrutura é causar uma reação em cadeia catastrófica: laboratório, enfermagem, leitos hospitalares, retaguarda na urgência, média complexidade. Mudaríamos o local do gargalo; 6. Alguns colegas enfermeiros (Hena Dianna, Hermes Peixoto, Maria Costa) da rede municipal de saúde de Campo Grande marcaram meu nome neste post e me questionaram: como você se sente a respeito disso? Sinto raiva? Sim. Sinto vontade de gritar aos quatro cantos a real função do enfermeiro? Sim. Porém o que sinto mesmo é uma OBRIGAÇÃO de conclamar os colegas enfermeiros a demonstrar nossa função NA PRÁTICA. Não utilizar a rede social para entrar neste jogo de quem pode mais quem grita mais. Raciocinar e acalmar os ânimos. A indiferença é a melhor resposta para a ignorância. Não ignorância no sentido pejorativo, porque não acho que assim o foi. Mas no sentido de AUSÊNCIA DE CONHECIMENTO SOBRE O ASSUNTO. O exercício pleno é a melhor resposta para a arrogância. E também esta não no sentido pejorativo porque também acho que não foi assim que foi colocado. Mas no sentido de que ao pensarmos que sabemos tudo, ultrapassamos a linha do RESPEITO, que foi o caso do post do colega. Quando menciono indiferença, não coloco que não devamos nos posicionar. Mas devemos fazer isso pelos meios corretos a fim de não nos comprometermos e não reforçarmos entendimentos equivocados como os do colega em questão. E isso deve e será feito; 7. Minha intenção com este post não é fazer panelaço. Reafirmo: acredito no trabalho em equipe e no respeito MÚTUO entre as categorias de profissionais de saúde. Tenho amigos médicos de todas as modalidades os quais admiro muito e que muitas vezes divergimos de opinião, porém sem ultrapassar a linha do respeito profissional: em saúde da família, especialistas, que se formaram longe e revalidaram seu diploma, estrangeiros que revalidaram. Todos com um entendimento e uma prática totalmente voltada para o benefício da população por meio da INTEGRALIDADE DA ATENÇÃO À SAÚDE!!! Minha intenção foi tão somente ESCLARECER pontos na fala do colega que não condizem com a verdade. Existem ainda muitos outros pontos na sua fala que precisam ser revistos, principalmente como ocupante de função pública e com uma representatividade significativa perante EQUIPE; Para finalizar gostaria de me colocar a disposição de qualquer profissional que se sinta agredido com minhas palavras. Gostaria que o benefício da dúvida me fosse dado a fim de esclarecer e ampliarmos a discussão. Só crescemos com debate. Situação e oposição sempre. Sem no entanto ultrapassarmos a linha do convívio social delimitada pelo RESPEITO!!! Aleyne Lins Enfermeira com muito orgulho
Posted on: Thu, 03 Oct 2013 16:31:20 +0000

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