Vasco Pulido Valente, no Público: «Pensei em escrever - TopicsExpress



          

Vasco Pulido Valente, no Público: «Pensei em escrever qualquer coisa sobre o Guião para a Reforma do Estado, que o primeiro-ministro e o vice-primeiro ministro várias vezes nos prometeram desde Fevereiro e que, finalmente, apareceu por aí com um título pomposo e velho. Mas não vale a pena. O dito guião, escrito numa prosa oca e burocrática, não passa de uma série de lugares-comuns, por que ninguém no seu juízo jamais se interessará. Embora Paulo Portas se tenha esforçado por o enchumaçar, mandando usar uma letra grande e pôr muito espaço entre cada uma das divisões da coisa. Infelizmente, este patético truque não convenceu nem a televisão, nem os jornais, nem a pequena parte do público que por acaso ou puro masoquismo se decidiu a ler esse tão esperado documento. A política portuguesa chegou a um ponto de imbecilidade e descaramento em que já acha fácil enganar o país. Não engana. Mas, deixando Paulo Portas, no assento etéreo onde subiu, convém levar a sério a extraordinária purga (ou, se quiserem, saneamento) que se anuncia no PSD. Parece que umas centenas de militantes (à volta de 400) vão ser expulsos por se haverem candidatado em listas de oposição ou simplesmente por se associarem a elas de maneira que os notáveis do partido consideraram ofensiva. Até 2011, o PSD foi uma embrulhada de facções pessoais, sem ideologia, sem doutrina e sem estratégia. Quando Pedro Passos Coelho chegou (às costas de algumas dessas facções), veio presidir a um partido que se tornara numa espécie de federação de municípios só ligada por interesses pouco confessáveis, na melhor hipótese, e, na pior, pelo medo da polícia. Agora, precisam de chicote ou querem vingança - o que não admira. Um partido desta natureza não podia, de toda a evidência, governar Portugal. Mas governou sob a protecção da troika, que lhe ofereceu um ersatz de programa económico e financeiro e desculpa ideal para uma política errada e perniciosa, que o próprio Vítor Gaspar tristemente denunciou. Quanto ao resto, abandonado ao arbítrio de cada ministro, oscilou entre o razoável e o péssimo, sem que o primeiro-ministro se perturbasse, porque já muito antes se habituara ao caos e, no fundo, se convencera que estava a salvar a Pátria. A pobreza de espírito da classe dirigente portuguesa - do PSD, do PS e do CDS - encontrou na crise um campo aberto à sua livre manifestação. A asneira rolou sobre nós e trouxe a miséria, que não serviu para atenuar as dores do presente ou para preparar uma sociedade organizada e previsível. Do guião do sr. vice-primeiro aos saneamentos do PSD, nada faz sentido.» P.S.: Retirado do mural do amigo João Gonçalves.
Posted on: Sat, 02 Nov 2013 19:50:30 +0000

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