Vigilância e Punição e Microfísica do Poder Nós não vivemos - TopicsExpress



          

Vigilância e Punição e Microfísica do Poder Nós não vivemos num espaço neutro, plano. Nós não vivemos, morremos ou amamos no retângulo de uma folha de papel. Nós vivemos morremos e amamos num espaço enquadrado, recortado, matizado, com zonas claras e escuras, diferenças de níveis, degraus de escadas, cheios, corcovas, regiões duras e outras friáveis, penetráveis, porosas. Há regiões de passagem: ruas, trens, metrô; regiões do transitório: cafés, cinemas, praças, hotéis, e também as regiões fechadas do repouso do lar. Eu sonho com uma ciência que teria como objeto esses espaços diferentes. Esses outros lugares, essas contestações místicas e reais do espaço em que vivemos. Essa ciência não estudaria as utopias, pois é preciso reservar esse nome para o que não tem lugar. Mas ela estudaria as heterotopias, espaços absolutamente outros. E forçosamente a ciência em questão se chamaria, ela se chama já “heterotopologia”, o lugar que a sociedade reserva nessas margens, nas praias vazias que a envolvem. Esses lugares são principalmente reservados aos indivíduos cujo comportamento é desviante em relação à media ou à norma exigida. Daí as casas de repouso, as clínicas psiquiátricos, as prisões. Precisamos acrescentar, provavelmente, os asilos, pois o ócio numa sociedade tão atarefada como a nossa, o ócio é como um desvio. Aliás, é um desvio biológico quando está ligado à velhice. Ao mesmo tempo é um desvio constante para todos os que não têm a descrição de morrer de infarto nas três semanas que seguem ao início de sua aposentadoria. (Texto retirado de FOUCAULT POR ELE MESMO - Vídeo produzido por Françoise Castro/ tradução não informada. Disponível em youtube/watch?feature=player_embedded&v=Oy0_KfZnlws)
Posted on: Fri, 26 Jul 2013 23:30:16 +0000

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