WASHINGTON NOVAES OPINIÃO 01/08/2013 A dura batalha pela - TopicsExpress



          

WASHINGTON NOVAES OPINIÃO 01/08/2013 A dura batalha pela Amazônia As notícias vieram com poucas horas de diferença entre uma e outra: morreu aos 82 anos, no Rio de Janeiro a professora emérita da Universidade Federal e da Academia Brasileira de Ciências, Bertha Becker, autora de vários livros, uma das pessoas que mais lutaram por uma política adequada para a Amazônia; no mesmo dia, o Sistema de Alerta sobre Desmatamento, do Imazon, informou que em maio a perda de floresta no bioma chegou a 84 quilômetros quadrados (quase 3 por dia), 97% mais que em maio do ano passado. De agosto de 2012 a maio de 2013 o desmatamento foi de 1.654 km2, ou 89% mais que em igual período anterior (de 873 km2). Já em junho deste ano foram desmatados 184 km2 ou 437% mais que em junho de 2012 (34 km2). Há muitos outros números, mas estes bastariam para entristecer a professora Bertha Becker, que há mais de 50 anos lutava por outras formas, não a expansão desordenada da atividade agropecuária em áreas desmatadas e pela expansão sem regras das ocupações humanas. Como demonstra o Programa Municípios Verdes (julho de 2013), as causas principais do desflorestamento, acentuado com os avanços da BR-163 e da Rodovia Transamazônica (que expandiram a especulação com áreas desmatadas, assentamentos e ocupação ilegal de áreas públicas), foram, nas últimas décadas, megaprojetos de hidrelétricas, nova corrida ao ouro e outros minérios – esta última ganhando novo impulso com o projeto de reformulação do Código Florestal e do Código de Mineração. O novo Código poderá permitir até a ocupação de terras indígenas e de áreas protegidas legalmente, que poderiam ser trocadas por outros espaços. Por essas e outras, diz o Instituto SocioAmbiental de São Paulo (ISA), em uma década (2000/10) a Amazônia toda perdeu 240 mil quilômetros de florestas, ou seja, área equivalente à do Estado de São Paulo. Dois terços dessa perda aconteceram no Brasil, em função de projetos nas áreas de petróleo e gás, extração de madeira, mineração, hidrelétricas, estradas etc. Uma perda de valor incalculável quando se lembra, como o National Geographic (outubro de 2011), que a Amazônia estoca 85 bilhões de toneladas de carbono em sua vegetação (uma árvore tem 48,5% de seu peso em carbono). Não por acaso, a União Europeia, extremamente preocupada com emissões que favorecem mudanças climáticas, acaba de proibir a entrada em seus países, sem certificação, de madeira e produtos ligados ao desmatamento. A Amazônia Legal tem, em áreas desmatadas, quase 80 milhões de cabeças de boi, segundo o IBGE (O Globo, 2/4), ou quase 40% do rebanho brasileiro, de 212 milhões de cabeças. O Brasil é o segundo maior produtor mundial de toras e o primeiro em madeira serrada. Já perdemos 20% da vegetação do bioma. E não há indícios de novos progressos, já que o próprio Fundo Amazônia, administrado pelo governo federal desde 2006, inclusive com aportes externos, só usou 11,4% de seus R$ 1,29 bilhão em recursos. Também pode contribuir para os problemas o bloqueio de mais de um milhão de quilômetros quadrados de áreas para concessões de exploração de petróleo e gás em todo o bioma, segundo a Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (Instituto Carbono Brasil, 5/6), das quais 428,4 mil km2 já autorizadas e 40,7 mil já licenciadas. No Brasil, são 55 blocos, com cerca de 20 mil km2. Outra frente problemática é a das concessões de florestas privadas para exploração por empresas. A condição é de que só retirem quatro árvores por ano durante 30 anos. Mas a regra é quase ficção total, mesmo em projetos considerados exemplares, como alguns visitados pelo autor destas linhas. Especialistas dizem que para retirar apenas as árvores mais antigas e de maior porte, o concessionário precisa conhecer cada exemplar de cada espécie em cada hectare, pois o tempo de maturação é diferenciado, pode chegar até a mais de 100 anos – se não, corre-se risco de retirar árvores ainda em maturação e crescimento. Mas as concessões continuam a ser feitas, como nos 110 mil hectares da Flora Jacundá, ou nos 440 mil hectares da Flora Crepori. Já a estratégia de megahidrelétricas na Amazônia brasileira continua a pleno vapor, apesar das muitas questões levantadas por tantos especialistas. Só agora por exemplo, um quarto de século após o início da usina de Tucuruí, que supostamente permitiria substituir o óleo diesel como combustível no bioma, é que está sendo autorizada a construção de 851 quilômetros de linhas de trasmissão (até aqui, a energia serviu principalmente para abastecer grandes empresas de produção de alumínio que vieram de outros países, em busca da energia barata e ainda subsidiada). Mas em Altamira (PA), vai repetir-se com Belo Monte o processo já observado em Porto Velho (RO), onde a construção de hidrelétricas no Rio Madeira levou a população a crescer centenas de milhares de pessoas, numa cidade sem estruturas adequadas. Como acontecera também em Marabá, que passou para mais de 220 mil habitantes, por causa da mineração na Serra dos Carajás, mas agora se afoga em problemas com a saída das maiores empresas, ante a queda de preços do minério. Os esgotos de 84% das residências correm a céu aberto na cidade, onde acontece um homicídio a cada 36 horas. Mas ainda vão ser implantadas dezenas de usinas hidrelétricas nos Rios Tapajós, Teles Pires, Juruena. Em Belo Monte, onde o projeto de hidrelétrica, orçado em R$ 16 bilhões, já passou para R$ 28,9 bilhões, o custo pode subir mais. Nos arredores de Belo Monte poderá haver um projeto gigantesco de mineração. A professora Bertha Becker merecia notícias melhores, ao cabo de sua luta. Washington Novaes é jornalista
Posted on: Thu, 01 Aug 2013 14:44:56 +0000

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