ZULEIDE CURTAM A NOSSA PAGINA>>Eu amo terror A Mordida Da - TopicsExpress



          

ZULEIDE CURTAM A NOSSA PAGINA>>Eu amo terror A Mordida Da Víbora Fiz uma viagem a Hong-Kong para me aperfeiçoar em artes marciais. Na academia que me indicaram, encontrei grandes artistas marciais, homens com habilidades extraordinárias no uso do corpo físico como arma e, outrossim, no uso de armas brancas como a espada e o bastão. Fiquei sobremaneira impressionado com a destreza de dois homens em especial: Sato, um japonês muito graduado em caratê, e Escaravelli, um norte-americano de sobrenome italiano que se movia como um tigre nos treinos. O tigre é negro e fulvo, negro e fulvo, negro e fulvo... Suas cores são berrantes, porém, quando se move, contraído e silente, o tigre passa a ser negro sobre fulvo, “não” sobre “sim”, movimento puro, pura mutação e isto o torna — invisível para a sua presa. Escaravelli conhecia um pouco de tudo, mas a sua especialidade era a luta chinesa, com alguma mescla da luta tailandesa e do boxe inglês. Sato dirigia as aulas e Escaravelli era o dono da academia... além de narcotraficante. Ora, por razões pessoais que não pretendo explicar aqui, eu não gostava nada de narcotraficantes. Nessa época, eu vinha treinando o uso de armas improvisadas que levavam a minha patente pessoal, pequenas criações minhas que vinha me esmerando em tornar extensões do meu corpo e do meu espírito. A minha favorita entre essas armas era aquela que batizei de — víbora. A víbora era uma pequena tesoura de cortar unhas ligeiramente curva e bastante pontiaguda que mandei afiar até o limite. Mais tarde, descobri em manuais de “survivalists” que outros tiveram a mesma inspiração que eu, todavia a técnica depurada no emprego da víbora que desenvolvi persiste sendo fruto exclusivo da minha verve. Outra dessas armas era a minha escopeta de bolso Michelangelo (e, para quem nunca leu nenhum dos meus escritos, Michelangelo é o nome). O artefato, extremamente simples, consistia em um frasco de vidro pequeno e cilíndrico com uma tampa de plástico facilmente removível com o polegar e preenchido com bilhas. Testada em tijolos e paredes, essa arma mostrou-se incrivelmente eficiente, superando as minhas expectativas iniciais. Busquei, durante bastante tempo, as melhores formas de lançar as bilhas do interior do frasco com força e precisão. Podia lançá-las num gesto curto, se tivesse pouco espaço para me mover, pondo o máximo da minha energia no golpe, com o auxílio do quadril como alavanca, assim como se faz para desferir um soco firme no caratê. Podia, ademais, lançar as bilhas a uma distância maior por meio de um movimento giratório, algo semelhante àquele que os atletas de lançamento de dardo executam e que terminava, novamente, com o uso do quadril como alavanca. Uma variação da escopeta de bolso que desenvolvi com grande êxito consistia em um porta-moedas que comprei numa tabacaria, cilíndrico e feito de alumínio. Para um melhor efeito, prendia as moedas umas às outras com uma tira de fita adesiva transparente e disparava esse meu “balote” da mesma forma como fazia com as bilhas. Cheguei a rachar um coco ao meio com este expediente. Entretanto, as cobaias ideais para os meus experimentos com tais armas não eram cocos, nem tijolos ou paredes... Bem, como já disse, eu não gostava nada de narcotraficantes. Sato, Escaravelli e um policial desviado que os acompanhava sempre, participando das aulas e saindo por último da academia em companhia daqueles, estavam todos envolvidos num esquema de tráfico de drogas, segundo arquivos seguros da Interpol a que tive acesso através de amigos policiais. A Interpol, como a maioria das policias investigativas leva, por vezes, muito tempo para “dar o bote” num criminoso, ou numa quadrilha. Só o fazem quando têm provas materiais suficientes para prendê-los, ou do contrário, os marginais acabariam sendo alertados de que estavam sob investigação e, através de bons advogados, se livrariam da justiça para possivelmente até processar os policiais por abuso de autoridade e coisas congêneres. Eu certamente não sou nenhum salvador do mundo, ao contrário, cuido dos meus assuntos e procuro não me intrometer nos alheios. Entretanto, Sato, Escaravelli e o tal policial corrupto eram cobaias ideais para os meus experimentos com as minhas armas improvisadas; os três eram homens fortes, sabiam se defender muito bem, e me proporcionariam a oportunidade de ver como funcionariam os meus brinquedos na prática, isto é, em corpos humanos, assim, decidi matá-los e dar fim àquela quadrilha, utilizando-me apenas de bilhas, moedas e tesourinhas de cortar unhas. Seria um desafio interessante, eu supunha. Eu já tinha aprendido o bastante com as aulas de Sato e as demonstrações de Escaravelli, quando fui deixando que os demais alunos tomassem os seus banhos e se retirassem antes de mim. O meu banho nesse dia foi um tanto quanto demorado. Escaravelli entrou no vestiário duas vezes para apressar os alunos retardatários. Todos saíram e eu continuei calmamente tratando de aplicar o meu desodorante de frente para o espelho, passar a minha colônia e vestir as minhas roupas bem devagar. Saí do vestiário no momento em que o policial, com o seu trinta e oito visível sob a blusa, se havia adiantado na minha direção, ou para urinar ou para sondar-me naquela minha postura estranhamente desrespeitosa; os meus mestres esperavam por mim de pé e de braços cruzados sobre o dojô, mais ao fundo, conversando um com o outro. Uma das paredes em torno do dojô era recoberta de espelhos para que os praticantes de artes marciais pudessem ver a si mesmo executando os movimentos exigidos. O homem do trinta e oito dirigiu-se a mim, dizendo algo inútil que me escapa à memória. Interrompi a sua fala, olhando para o revólver sob a sua blusa e dizendo-lhe: “Eu acho que posso matar você desta distância, antes que toque nessa sua arma.” Tinha na mão direita o meu porta-moedas destampado e o polegar sobre o “balote”. O homem não gostou do que ouviu e estancou, mirando-me com uma expressão e um olhar de fúria passageira que, subitamente, se transformou numa gargalhada desdenhosa ou amistosa, não houve tempo para saber ao certo. Atirei na sua testa o “balote” com precisão perfeita, usando o golpe curto, com jogo de quadril. A pancada quebrou o seu osso frontal e fê-lo cair para trás aparentemente fulminado, com a boca e os olhos abertos. Sato e Escaravelli, vendo aquilo, puseram-se em posição de ataque, armando as suas bases e guardas. Eu tinha uma Glock 21, em .45 ACP, com uma bala na câmara, escondida num coldre tático preso ao cós das minhas calças sobre a região lombar, pois, afinal, um dos dois poderia estar armado também e aquilo era um simples experimento e não uma missão suicida. Entretanto, como nenhum dos dois esboçou sacar uma arma de fogo, e ambos prepararam-se para o combate corpo a corpo, tirei da bolsa presa a minha cintura dois frascos com bilhas e destampei-os, cada um com um dos polegares. Sato adiantou-se lesto ao mesmo tempo em que eu girava para disparar o primeiro tiro com a minha escopeta de bolso. Atingi-o em cheio na altura do peito e do rosto, a um metro e meio de distância, depois, girei na outra direção e atingi Escaravelli, a três metros de distância, na altura do abdômen e da pélvis. Sato teve a vista esquerda perfurada e ressentira-se bastante do impacto, estancando; contudo, era muito forte e permaneceu firme em sua base. Não tive como saber ao certo se a bilha que perfurara o olho do japonês atingira o seu cérebro. Escaravelli demonstrou também o quanto era forte: sua camisa estava desabotoada e pude ver que uma das bilhas perfurara o seu estômago e outra, a sua pélvis, esta provocando uma farta hemorragia. Nenhum dos dois caiu com os tiros, mas ambos tinham belas bolinhas prateadas incrustadas nos seus corpos; Sato tinha uma presa à testa, que, de repente, caiu sobre o dojô. Concluí que homens medianamente fortes teriam caído ou ficado fora de combate com os tiros, mas eu tinha escolhido cobaias excepcionais. Aproveitando-me daquele momento de surpresa e paralisia dos dois, gritei para o japonês: “Sato, olhe para o seu rosto”, e apontei para a parede recoberta de espelhos à minha esquerda. Sato virou a cabeça à maneira dos orientais, num gesto sincopado, e quando viu o seu rosto com a vista vazada foi baixando a guarda lentamente. Calcei a víbora, então, com os dedos indicador e médio da mão direita. Num gesto rápido, me atirei para cima de Sato com a minha base invertida, isto é, com o pé direito à frente e feri-o no pescoço com a tesourinha — que estava na minha mão direita — saltando, em seguida, de volta para a minha base anterior. No golpe, inumeráveis vezes repetido em treinos, apoiei a falange distal do polegar entre as falanginhas e as falangetas do indicador e do dedo médio, quase como se fizesse uma figa, de modo que a víbora atingira o pescoço de Sato aberta, provocando duas incisões que se expandiam no movimento de penetração por força do impacto, enquanto o meu polegar deslizava naturalmente para a posição normal de soco. Assim, na volta, eu tinha a mão firmemente fechada e saltara para trás, lançando toda a minha força e o peso do meu corpo nesse gesto, de modo que as lâminas curvas e afiadíssimas da tesourinha se reencontraram, cortando e puxando a carne ferida de Sato, e unindo as duas incisões iniciais numa só. Eu tinha batizado esse movimento de — a mordida da víbora. Do pescoço cortado de Sato começou a jorrar um esguicho de sangue que foi tingindo de escarlate o rosto do homem do trinta e oito, caído ao chão com a boca e os olhos arreganhados. O japonês caiu de joelhos sem parar de encarar-se no espelho, numa cena algo patética que me fez ter vontade de rir. Escaravelli estava ainda em sua base e com a guarda levantada, porém pareceu-me fora de ação diante da surpresa e da imagem nem tão feia assim, ainda que bastante risível, de Sato ajoelhado esguichando sangue do pescoço e olhando fixamente para o seu próprio reflexo no espelho. Calcei uma segunda víbora que trazia na bolsa, em posição de saque rápido, e parti bem devagar em direção a Escaravelli, exclamando-lhe: “Traficante sujo, veja só a cara do seu amigo Sato; ele não está ‘bonitinho’ assim, em transe, olhando para esse maldito espelho?!” E continuei: “Pois você vai ficar bem pior do que ele, traficante! Assegure-lhe!” Com uma víbora em cada mão, comecei a usar a guarda e os movimentos básicos do estilo da serpente, o que significava uma afronta a um especialista em luta chinesa do nível de Escaravelli. Ao mesmo tempo em que “serpenteava” com os braços, alternadamente, sibilava com a boca, num tom de cinismo extremo, a imitar a serpente quando faz: “sssssssssssss”. A posição correta para a empunhadura das víboras era com as alças das tesourinhas sobre as articulações das falanges com as falanginhas e não enterradas nos dedos como anéis. Desse modo, era possível introduzir o polegar entre as alças e obter, no puxão, o efeito da mordida da víbora. Era possível, ademais, desenvolver melhor o golpe no estilo da serpente, desferindo cutiladas rápidas e hipnóticas, guiadas pela língua curva e metálica da víbora. Veja, porém, que o polegar se apoiava entre as falanginhas e as falangetas, e não entre as falanges dos dedos indicador e médio como numa figa perfeita. A bilha que perfurara o estômago de Escaravelli parecia estar produzindo queimação, porque, em dado momento ele pôs a mão sobre o ferimento, de onde escorria um líquido esbranquiçado, provavelmente contendo humores pépticos. Da sua pélvis corria bastante sangue. Notei então, que havia uma perfuração no seu pescoço, com um sangramento leve, provavelmente originada pelo ricochete de uma das bilhas na parede ao seu lado. Entretanto, Escaravelli estava ferido mais pela surpresa e pelo tolo pavor da cena a sua frente que pelo tiro com a minha escopeta de bolso Michelangelo. Talvez eu precisasse aperfeiçoar algo naquele artefato, pensei. Talvez, devesse usar agulhas grandes ou pregos afilados ao máximo em lugar das bilhas... talvez também algum veneno... mas isso tornaria a arma, em caso de revista, de insuspeita em suspeita... Próximo já de Escaravelli, ameacei feri-lo com a víbora. Desferi algumas “mordidelas” que cortaram os seus dedos duas vezes e ele, ainda mantinha a guarda alta, mas não conseguia utilizar a sua arte. Estava indefeso. Veja que entre o artista marcial hábil em competições e demonstrações e o homem que incorpora o espírito da guerra e faz de seus conhecimentos uma forma de magia aplicável ao combate de modo pragmático e eficiente vai um abismo. Entretanto, Escaravelli era muito superior a mim como atleta marcial, tinha reflexos muito depurados e golpes muito poderosos em seu arsenal: não convinha subestimá-lo, nem lhe dar chance de reação. Quando ele esboçou soltar um chute ameacei defendê-lo com a víbora ensangüentada e ele desistiu, desequilibrando-se um pouco. Aproveitei-me desse vacilo seu e procurei ser ousado e preciso; desferi o meu golpe com a mão direita, num salto em direção aos seus olhos; ele soltou, finalmente, o chute que estava preso, mas eu segurei com facilidade a sua perna, coisa que seria impossível para mim em uma situação normal de treino ou num campeonato desportivo. Quando puxei a víbora de volta para a posição de ataque, tinha perfurado as suas duas vistas e cortado a base do seu nariz; o sangue correu pelas suas faces como duas grossas lágrimas vermelhas e a sua perna direita ainda estava segura junto ao meu bíceps esquerdo. Com a faca do pé direito atingi a sua perna esquerda, plantada no chão, partindo-a como se fosse um graveto. Escaravelli desabou e, enquanto caía, fui quebrando também a sua perna direita, abraçando-a contra o peito. Ele parecia agora uma gazela cega, com as pernas fraturadas para os lados e caído. Sequer gritava. Pus o joelho sobre a sua cabeça, deixando a têmpora à mostra e cravei ali a víbora fechada, em posição de estocada. Retorci-a, em ambas as direções, como quem abre uma garrafa com um saca-rolha. Enquanto atacava Escaravelli não me descuidei de Sato nem por um instante. O japonês ainda permanecia de joelhos de frente para o espelho, com aquela vista vazada e borrifando sangue do pescoço sobre o corpo do homem do trinta e oito já coberto de escarlate e ainda com a boca e os olhos abertos. Este tinha morrido fulminado pelo meu “balote”. Eu estava bastante feliz com o resultado do experimento. Apliquei um chute muito colocado e firme na nuca de Sato para ver se ele acabava de sangrar adormecido ou morria logo do golpe. Creio ter quebrado o seu pescoço. Tirei da bolsa do homem do trinta e oito as chaves da academia e fui trancar a porta. Sabia exatamente onde ele as guardava porque sempre cultivei o hábito de observar as coisas a minha volta, através de relances discretos e superfícies espelhadas sem deixar que ninguém percebesse que o fazia. Eu estava todo coberto de sangue alheio; fui tomar um segundo banho quente, pus as roupas ensangüentadas numa mochila e vesti as limpas que tinha deixado guardadas lá para esse fim. Saquei da pistola para me garantir de eventuais surpresas na saída e prendi-a debaixo da axila, cobrindo a arma com um casaco sobre os ombros. Apaguei as luzes da academia e tranquei a porta por fora.
Posted on: Thu, 24 Oct 2013 02:45:15 +0000

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