me identifiquei tanto Ravy, que sem poder compartilhar, - TopicsExpress



          

me identifiquei tanto Ravy, que sem poder compartilhar, copiei! Ser inteiro custa caro. Endividei-me por não me dividir. Atrás da aparência há uma reserva de indigência, a volúpia dos restos. Parto em expedição para provar que já morri. E escavo boletins, cartas e álbuns - o retrocesso da minha letra ao garrancho. O passado tem sentido se permanecer desorganizado. A verdade ordenada é uma mentira. O musgo envaidece as relíquias. Os dedos retiram as teias, assisto à revoada de insetos das ciladas. Fujo da claridade, refulge a poeira. O par de joelhos na imobilidade de um rochedo. Reviso o testamento alisando a textura, como um gramático da seda. Desvendo o que presta pelo som do corte. O que ansiava achar não acho e esbarro em objetos despossuídos de lógica que me encontram antes de qualquer pretensão. O que fiz cabe numa caixa de sapatos. Colecionava talhos de madeira, bonecos adornados com a ponta miúda do canivete. Lá estava um dos sobreviventes, desfocado, vizinho das medalhas escolares e dos parafusos condoídos de ferrugem. Um autorretrato não seria tão fidedigno. Eu era aquela frincha de chão florido, casca e húmus. Quantas foram as miudezas que não combinavam com o conjunto e, na falta de harmonia, abandonei do depósito da infância? E se faltou confiança para restaurá-las ao convívio, faltou coragem para excluí-las em definitivo. Somos o desperdício do que estocamos. Não aprendemos a desaprender. Não doamos nada, nem a palavra passamos adiante. O porão tem vida própria e respira o que jogamos fora. O que refugamos na ceia volta a nos mastigar. Tudo pode fermentar: o forro, os passos, o odor do braço. Tudo pode nascer sem o mérito do grito, no múrmuro ou no estalar do abraço. Tudo pode nascer, ainda que abafado. (Carpinejar).
Posted on: Sat, 19 Oct 2013 00:57:33 +0000

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