terça-feira, 23 de março de 2010 O João-de-barro, o Cuco e a - TopicsExpress



          

terça-feira, 23 de março de 2010 O João-de-barro, o Cuco e a Contemporaneidade Por Francisco Ramos de Brito A natureza nos traz surpresas que nem mesmo nossa vã filosofia pode imaginar. Dentre tantas surpresas destaco dois pássaros que se distanciam desde seus nascimentos e ao longo de suas trajetórias e construções de vidas: o joão-de-barro(1) e o cuco(2). O primeiro, o joão-de-barro, tem por excelência ser construtor de sua própria morada. Como exímio arquiteto (que planeja), construtor (que coordena) e operário (que executa), ele define sua residência com brilho de arte que só ao nobre artista lhe é dado possuir. Como bem pode ser compreendido: a arte que aflora do artista encontra-se no seio de sua cabeça. Destarte, desenha sua residência, delineando seus contornos, deleites e comodidades. O minúsculo pássaro assim o faz, buscando material de construção com sabedoria impar, catando o melhor que encontra no ambiente: cimento, argamassas, pedras, e tudo o mais necessário à construção do seu belo lar. O segundo, o cuco, cuja fêmea deposita seu ovo em ninho alheio, invade desde logo o lar de um pequeno pássaro. Não tardando a vir ao mundo, com avantajado porte em comparação com o pequeno filhote do lar parasitado, o cuquinho esmaga e empurra o indefeso, assistindo em “berço esplêndido” (3) ao baque em altura que se sucede. Depois, recebe no bico dos pais do ex-morador, que jaz ao solo, o alimento que seria a este destinado. Cresce à custa alheia. Robustece sua aparência e significância, e segue seu ciclo de invasão e parasitismo dos ninhos alheios. Não é mera coincidência, em dias hodiernos, encontrarmos seres humanos joãos-de-barro e cucos. No mundo “civilizado”(4) os joãos-de-barro constroem suas moradas em conformidade com o meio. A regra é que a terra é de todo ser vivente: cada qual em seu lugar. E todos em todos os lugares, porque há espaço para todos. Não há privilégios, embora diversidades haja. No mundo “civilizado” os joãos-de-barro constroem saberes e conhecimentos, moradas do espírito altruísta. Dos sábios joãos-de-barro emanam e se constroem moradas na razão e na sensibilidade: porque plantam e colhem sabedoria, semeando entre os homens e mulheres a paz e a concórdia. Os joãos-de-barro contemporâneos (5) não nos surpreendem, tem excelências em construções prósperas, morada de luz que ilumina a todos os que os buscam. Como exímios arquitetos planejam o futuro com base nos conhecimentos dos erros do passado; como construtores do presente, coordenam o nascimento de um porvir; e, como operários executam seus misteres, definindo suas residências com brilho de arte que só aos nobres artistas é dado possuir: o respeito pelo existir do outro, além do seu próprio existir. A arte que aflora dos artistas joãos-de-barro se encontra no seio de suas cabeças, nas mãos cuidam, nos olhos que vêem, no ar que se respiram, no cheiro que sentem, na água da vida que bebem, nas palavras que proferem, nos corações que batem no peito. O que desenham os joãos-de-barro trata de residências na terra (6), contornos de toda vida existente, deleites de todos, comodidades e prazeres sem privilégios. Buscam de forma incansável materiais de construção com sabedoria e conhecimento, impares; catando o que de melhor encontram no meio ambiente, necessários à construção do lar, residência na terra: paz e harmonia entre humanos e tudo o que há de ser vivente! Mas, há os seres humanos cucos, que ensinam seus filhos desde tenra idade a serem cruéis, a “tomar do outro aquilo que afirma ser seu”(7); a “levar vantagem em tudo”(8), posto que existe um “jeitinho”(9) e que o “mundo é dos espertos”(10). Os cucos contemporâneos depositam venenos nos lares, invadindo e destruindo famílias inteiras. São destruidores das mentes e dos corpos jovens, são mutiladores do presente e desconstrutores do amanhã. Não tardam ameaçar a existência do mundo, com a cobiça, com a prepotência e arrogância dos que a nada temem. Apresentam-se com avantajados portes em “armas e munições” (11) em comparação com os “pequenos depositários de boa-fé e parasitados” (12). Esmagam e empurram a esperança de indefesos, ladeira a baixo, assistindo em berço esplêndido ao baque em “distância e tempo”(13) que se sucedem. Alimentam-se do sangue e suor dos que jazem “em castelos, mansões, mocambos, palafitas, vielas, ruelas, becos sem saídas” (14). Alimentam-se da incerteza de que existirá um futuro, e da certeza que o presente é doentio, mas é rentável. Crescem a reboque da lei instituída, a custas de saberes alheios. Robustecem em aparência nos corredores e gabinetes oficiais, seguindo ciclos, à luz do dia, de perversão, covardia e parasitismos cínicos. Não há ética, moral, hábito ou costume que não sejam ditados pelos cucos “possuidores do mundo”(15). São os cucos contemporâneos perseguidores e detentores da idéia da destruição em massa – não como um simples esmagamento e empurram –, posto que pregam o apocalipse, o fim previsível do mundo, onde o poder que pode, deve destruir o planeta, embora sem nenhum sentido. Com que fim e por que agem assim os cucos contemporâneos? Já não bastaram os césares (16) do mundo antigo e da modernidade? Porque o que importa aos cucos contemporâneos é o alimento que provem do trabalho alheio, da força motriz que não é a sua... como na natureza do cuco espertalhão: invadem, parasitam, alimentam-se, crescem, se robustecem, e seguem seus cursos... _________ 1. Não há dificuldade de se reconhecer um ninho de João de Barro (furnarius rufus). Na vizinhança imediata, nas árvores que as rodeiam ou nos paus dos currais, encontra-se uma casinha deste amigo do homem. Até nos postes elétricos e telefônicos, como se quisesse colocar-se em contato com a sociedade, vê-se uma bola de barro, que mais parece um diminuto forno antigo de padeiros. Disponível em: rosanevolpatto.trd.br/lendajoaobarro.htm/ acesso em 23/03/2010. O joão-de-barro ou forneiro (Furnarius rufus) é uma ave Passeriforme da família Furnariidae. É conhecido por seu característico ninho de barro em forma de forno (característica compartilhada com muitas espécies dessa família). É a ave símbolo da Argentina, onde é chamado de hornero ("Ave de la Patria" - desde 1928). Disponível em: pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o-de-barro/ acesso em 23/03/2010. 2. O cuco-canoro (Cuculus canorus) é uma ave pertencente à ordem Cuculiformes e à família Cuculidae. O nome "cuco" é onomatopaico e deriva do facto de o canto do macho ser composto por uma sequência de duas notas, que soam como "cu-cu". Em Portugal o canto do cuco faz-se ouvir sobretudo de finais de Março a meados de Junho. É uma espécie parasita, o que significa que, em vez de construir ninho, deposita os seus ovos nos ninhos de outras aves, nomeadamente de pequenos insectívoros, como a ferreirinha-comum, o pisco-de-peito-ruivo e o rouxinol-pequeno-dos-caniços, entre outras espécies. As aves em cujos ninhos os ovos são colocados recebem o nome de hospedeiros e ficam com a tarefa de cuidar do jovem cuco até este ser independente. O cuco é migrador: reproduz-se na Europa e inverna em África. Disponível em: pt.wikipedia.org/wiki/Cuco-canoro/ Acesso em 23/03/2010. 3. Diz respeito à expressão contida no Hino Nacional que considera o Brasil um berço esplêndido, ou seja, magnífico. Ainda assim: “Um maravilhoso berço, e uma nação ali... dormindo... quietinha... enquanto os ratos saqueiam a dispensa.” Disponível em: br.answers.yahoo/question/index?qid=20080313132743AAUI3Dn/ Acesso em 23/03/2010. 4. Segundo Norberto Elias o homem civilizado seria, na concepção ocidental, aquele que se “orgulha do nível de sua tecnologia, a natureza de suas maneiras, o desenvolvimento de sua cultura científica ou visão do mundo, e muito mais.” (O Processo Civilizador – História dos Costumes. Volume (1). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994). 5. São pessoas que acreditam que há saída para a humanidade desde que haja uma profunda reflexão crítica e mudança de atitudes frente aos problemas porque passa o planeta terra, como o aquecimento global, a crise econômica, o aumento da violência e criminalidade, o nível de corrupção, etc. 6. Referência ao poeta chileno Pablo Neruda. 7. Expressão usada em imagens midiáticas por um bandido que ensinava a seu filho menor de três anos, simulando com uma boneca, apontar uma arma de fogo e tomar o que a menina (boneca) detinha: bolsa, sacola, etc. 8. Expressão utilizada por Gerson, ex-jogador de futebol, logo após a conquista da copa do mundo de 1970, fazendo alusão à propaganda e venda de cigarros, em horário nobre da TV. O que se tornou lema em plena ditadura militar. 9. De uso corriqueiro, com o acréscimo de “brasileiro”, para designar que tudo é possível e há uma saída, mesmo contrariando a lei instituída. Daí, ser preciso apenas a quem se deve buscar para que o “jeitinho” seja satisfeito. 10. Expressão largamente usada no Brasil para definir as trapaças que são cometidas e vangloriadas como virtude de heróis, que, como no evolucionismo, são os espertos que sobrevivem: trapaceando. 11. Diz respeito ao poder de beligerância que as superpotências detêm e que impera na hora de decidir contra quem lutar e com quem se aliar: vide guerras do Afeganistão e Iraque. 12. São depositários de boa-fé, ao tempo que também são parasitados, os povos ou nações que acreditam que estão sendo beneficiados por programas de ajuda internacionais, mas estão sendo cobaias e burros-de-carga em diversas situações, onde o que interessa aos pseudoajudantes é a exploração da riqueza dos pobres, que está na sua própria vida, e na exploração do seu país, como na busca por plantas medicinais, para pesquisa em seres humanos, minérios, para enriquecimento e produção de armas atômicas, etc. 13. Vem se tornando uma mera abstração o sentido de distância e tempo, com a globalização cada vez mais desaparece a noção de temporalidade. 14. O tráfico hoje é alimentado por todos os seguimentos sociais, desde a casa mais abastada até a favela. Daí, morrem jovens em todas as camadas sociais: por assassinatos e pelo consumo de drogas. 15. Os Estados Unidos aparecem hodiernamente como a Nação que comanda, ou pensa comandar o mundo. Recentemente declarou, um Promotor de Justiça americano, ser o brasileiro Paulo Salin Maluf procurado internacionalmente, tendo a Interpol a incumbência de prendê-lo assim que desembarcar, em pelo menos, 180 países, que reconhecem e são signatários desta instituição policial. 16. Destaques dados a Nero, Calígula, na antiguidade, e Hitler, Stalin, Mussulini, Sadan Hussen, etc. na modernidade.
Posted on: Sun, 16 Jun 2013 02:44:00 +0000

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