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uma bem fundamentada crítica de o tempo e o vento: Direção: Jayme Monjardim Roteiro: Letícia Wierzchowski, Marcelo Ruas e Tabajara Ruas, baseado no livro “O Continente”, da trilogia “O Tempo e o Vento”, de Erico Verissimo Elenco: Thiago Lacerda, Cléo Pires, Fernanda Montenegro, Marjorie Estiano, Paulo Goulart, José de Abreu, César Troncoso, Leonardo Medeiros, Luiz Carlos Vasconcelos, Marat Descartes, Janaína Kremer, Leonardo Machado Brasil, 2013, Drama, 127 minutos Sinopse: Rio Grande do Sul, final do século XIX. As família Amaral e Terra-Cambará são inimigas históricas na cidade de Santa Fé. Quando o sobrado dos Terra-Cambará é cercado pelos Amaral, todos os integrantes da família são obrigados a defender o local com as armas que têm à disposição. Esta vigília dura vários dias, o que faz com que logo a comida escasseie. Entre eles está Bibiana (Fernanda Montenegro), matriarca da família que recebe a visita de seu falecido esposo, o capitão Rodrigo (Thiago Lacerda). Juntos eles relembram a história não apenas de seu amor, mas de como nasceu a própria família Terra-Cambará. (Adoro Cinema) tempoventofilme O povo gaúcho deve ser o mais bairrista do Brasil. Excetuando certos exageros nessa paixão por vezes descabida, não dá para negar que a literatura do Estado é realmente digna de orgulho. O que dizer, então, da obra de Erico Verissimo – e, mais especificamente, da trilogia O Tempo e o Vento? Lançada pela primeira vez em 1949, a primeira parte, intitulada O Continente, foi a merecidamente que ganhou o Brasil, até mesmo com uma minissérie produzida pela Globo na década de 1980 (muito digna, por sinal). É neste tomo que estão os personagens mais marcantes da obra de Verissimo e, sem dúvida, os melhores acontecimentos de toda a série literária escrita pelo autor gaúcho. Apesar do título ser O Tempo e o Vento, todas as produções relevantes sobre a obra se focam em O Continente, e não nas outras partes (O Retrato e O Arquipélago). Foi assim com a minissérie dirigida por Paulo José e é agora com o filme de Jayme Monjardim, que chega aos cinemas de todo Brasil após estreia antecipada no circuito comercial do Rio Grande do Sul. Só que se, por ser televisiva, a minissérie dirigida por Paulo José teve o tempo necessário para desenvolver os dois séculos de história retratados na obra original, o longa de Monjardim sofre por não conseguir dar a devida intensidade aos fatos em meras duas horas de duração. Ainda que não seja a tragédia e o oportunismo que poderia se esperar, O Tempo e o Vento é corrido e abarrotado de personagens e situações – o que quase castra a emoção da história singular criada por Erico Verissimo. Afastado do cinema desde que dirigiu Olga (filme que não é o desastre que tantos apontam), Jayme Monjardim agora volta a se envolver com a adaptação de uma obra forte e emblemática. Palmas pela coragem, mas também críticas pelas intenções comerciais: mesmo ganhando as telas de cinema, O Tempo e o Vento já está programado para ser exibido na TV em formato de minissérie. Ou seja, são no mínimo duvidosas as intenções “artísticas” do diretor com esse trabalho. De qualquer forma, é uma produção em alta escala (13 milhões bem empregados), destinada ao grande público e que deve fazer sucesso de bilheteria. Dá gosto de ver a história de Erico com todo esse requinte técnico, especialmente com o mestre Affonso Beato como diretor de fotografia e a Orquestra Sinfônica de Budapeste interpretando a trilha sonora. Mas, em termos narrativos e dramáticos, esta nova adaptação nada acrescenta para quem conferiu a minissérie dos anos 1980 ou é familiarizado com a obra homônima. Isso porque falta unidade ao longa, em uma narrativa que não se sente a cronologia: pouco aprendemos historicamente, não conseguimos nos envolver com todos os núcleos e os dois séculos retratados passam sem qualquer costura mais firme. Por sinal, percebam como O Tempo e o Vento deve ser o filme com o maior número de fade outs da história. Perde-se a conta de quantas vezes a tela escurece para marcar a transição entre épocas e situações. Estruturado basicamente com dois grandes protagonistas (Ana Terra e Capitão Rodrigo), o filme de Jayme Monjardim tem um elenco que merece atenção à parte. Nele, podem ser encontrados muitos atores globais e outros já conhecidos do grande público. Mas o filme é praticamente todo de um trio que dá todo o subsídio – direta ou indiretamente – para que a história se sustente. Quem primeiro surge em cena com essa missão é a inigualável Fernanda Montenegro, que tem a missão de ser a narradora da história. E se, com outra atriz, o papel óbvio poderia aborrecer o longa, com Montenegro acontece justamente o oposto: sua maestria com as palavras e seu talento arrebatador com a voz transformam em quase poesia até mesmo as frases mais capengas e didáticas. Ela é o coração do filme e ninguém poderia fazer melhor. Logo, é a vez de conhecermos a Ana Terra de Cléo Pires, em um papel que foi de sua mãe, Glória, na minissérie da Globo. E a sucessora bem que se esforça, mas o seu capítulo é o mais bagunçado de O Tempo e o Vento. Não dá para sentir nada do que acontece com sua personagem e muito menos se envolver com as transformações emocionais e as dinâmicas estabelecidas por ela com outros personagens. Por fim, aparece o Capitão Rodrigo de Thiago Lacerda. E é exatamente com ele que a história começa realmente a valer a pena. Não só porque a trama dá uma guinada em carisma e ritmo mas porque Lacerda está um arraso, dominando como ninguém o sotaque, a postura e a simpatia de um personagem que ganha, nas suas mãos, a melhor representação já vista de Capitão Rodrigo em uma adaptação. Com momentos divertidos aqui e outros emocionantes ali, O Tempo e o Vento fica em um meio-termo para os que já tiveram algum tipo de contato com o material de Verissimo ou com outras adaptações. Enquanto o trailer do filme acusava que o resultado seria digno de ser guardado como sonífero para noites de insônia, não demora muito para que essa sensação desapareça até mesmo com um certo suspiro de alívio. Não, O Tempo e o Vento não foi vulgarizado ou “globalizado”. O grande empecilho da direção de Monjardim e do roteiro adaptado por Letícia Wierzchowski, Marcelo Ruas e Tabajara Ruas é justamente a proporção entre a obra original e o filme proposto. A saga das famílias Terra e Cambará são épicas demais para caber em um longa de 120 minutos, e tal afirmação fica ainda mais evidente nos minutos finais, quando os acontecimentos da parte intitulada ”O Sobrado” no livro ganha foco com acontecimentos ainda mais corridos e displicentes. Tecnicamente, o espírito da saga familiar gaúcha foi respeitosamente absorvido (as paisagens não poderiam ser mais encantadoras e os figurinos e cenários não parecem novelescos), mas das duas uma: ou Jayme Monjardim se arriscava a fazer um verdadeiro épico de maior duração para abraçar com a devida intensidade todas as riquíssimas histórias (o que afastaria o grande público) ou então nem se preocupava com o lançamento cinematográfico, produzindo uma caprichada minissérie diretamente para a TV – formato que, sejamos sinceros, faz cada vez mais falta na rede Globo. Por fim, O Tempo e o Vento não chega perto de ser um desastre, mas tampouco flerta certeiramente com toda a emoção da saga de Erico Verissimo.
Posted on: Mon, 30 Sep 2013 22:37:50 +0000

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