É PRECISO RADICALIZAR - DO TEMPLO À HISTÓRIA... Por Professor - TopicsExpress



          

É PRECISO RADICALIZAR - DO TEMPLO À HISTÓRIA... Por Professor Antônio Neves Radicalizar é uma forma de se contrapor a ordem estabelecida, de romper às regras do sistema, é ser parte de uma causa justa em nome de um ideal transformador. Radicalizar é o não concordar sempre, com os sins da natureza materializada nas leis da razão pura das velhas tradições, é o desconstruir conceitos das receitas prontas, é dizer sim para as complexidades da dialética da natureza em movimento. Ao longo da História, não foram poucos os homens ou mulheres que radicalizaram nos seus comportamentos e se opuseram aos mecanismos e visões de mundo e sociedade que obliteram as possibilidades de crescimento humano com igualdade de oportunidades. Em nome de objetivos que mudaram o curso da História, muitos desses homens e mulheres pagaram com a própria vida por defender suas ideias com a firmeza do peso do seu radicalismo libertário e humanitário. Da ciência às artes, na política e nas relações de poder, na cultura, nas guerras (que por si só já é um ato radical de luta, ataque e defesa) são muitos os casos de radicalismo de ordem individual ou coletiva que reordenaram as lógicas do mundo moderno contemporâneo. Em pleno período entre guerras, no início do século passado, o indiano Mahatma Gandhi radicalizou numa contra proposta de atitudes e adotou o Satyagraha (o caminho da verdade), princípio da não agressão e uso da não violência como forma de protesto e ação, um meio revolucionário para forçar a independência da Índia em relação à Inglaterra, venceu. Martin Luther King, Jr., foi um pastor protestante e ativista político estadunidense, tornou-se um dos mais importantes líderes do movimento em prol dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos e no Mundo. Sua forma radical de luta se deu numa campanha de não violência contra a violência institucionalizada do racismo e da segregação racial. O maior nome do Cristianismo, Jesus de Nazaré, radicalizou no Templo indignado com a profanação à Casa do Pai e, de lá, usou a ira santa e expulsou os vendilhões. O seu discípulo Pedro, radicalizou no amor ao Mestre a ponto de negá-lo por três vezes. Judas, o mais radical entre todos, se traiu ao entregar o nazareno aos romanos. Ainda na cruz, Cristo radicalizou misericordiosamente e pediu – “Pai, perdoa-os, eles não sabem o que fazem.” - perdoou seus algozes e morreu por ter radicalizado contra Roma. O mais recente ato de radicalismo da História do Cristianismo partiu dos muros do império católico romano (Vaticano). Numa inesperada atitude, o papa Bento XVI renunciou ao seu pontificado, segundo ele, “pelo bem da Igreja”. A polêmica renúncia do papa veio num momento em que a Igreja Católica Romana precisa se reinventar; fazer sua reforma interna e adequar-se aos novos tempos. Bento XVI, neste ato de radicalismo extremo para os padrões da Santa Madre Igreja, demonstrou que a infabilidade papal é um dogma que pode ser questionado pela radical liberdade do exercício da fé e das fraquezas humanas. Séculos antes de Bento XVI, Martinho Lutero radicalizou contra a Santa Sé e protestou contra práticas consideradas, por ele, como abusivas aos dogmas da fé... A Igreja rachou, Lutero seguiu seus preceitos e fundou o protestantismo como forma de interpretar e difundir o Evangelho à luz dos princípios cristãos e não dos interesses materiais e mundanos do alto clero. São muitos os exemplos de comportamentos radicais alimentados pela rebeldia com causa e ideais bem definidas. Na História do Brasil Colonial, os negros escravizados nas senzalas radicalizaram contra a Casa Grande, se rebelaram contra o chicote, o tronco e os castigos da escravidão até que um dia, motivados por intensas lutas e batalhas contra o Estado e os senhores escravocratas alcançaram a tão sonhada liberdade. Ainda no Brasil, a juventude e a classe operária radicalizaram na contraofensiva da ação política ao se opor contra o regime ditatorial dos generais nos anos 60 a 80 e, como resposta, os generais radicalizaram na tortura, associada aos crimes de Estado contra os que buscavam a liberdade como pano de fundo para a construção de uma nação de iguais. Por fim, venceram os radicais da liberdade e da democracia! O Rei do Cangaço, o capitão Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, radicalizou no Sertão, impôs sua ordem e sua lei contra o poder opressor dos coronéis e do braço armado do Estado (as polícias) que, não menos violenta que os métodos do “governador do Sertão” disseminavam o medo por onde passava. Para o Rei do Cangaço, o seu radicalismo estava na concepção permissionária entre a violência por ele praticada e a ofensiva contra ele empregada por todo um meio social bem mais violento, ambientalizado sob o julgo da subserviência, da pobreza extrema e da omissão do Estado na ausência de políticas públicas que promovesse a paz social. O radicalismo do Cangaço estava no uso da violência como contra ponto a uma violência patrocinada por algo superiormente mais perverso, que era a negligência do poder governamental ante a negação dos direitos sociais. Um dos maiores nomes da música nacional, Chiquinha Gonzaga, radicalizou nos costumes da sua época, enfrentou os dogmas familiares e da sociedade do seu tempo para viver sua paixão pela música e pela arte, seguiu seu instinto rebelde e transformou-se numa das mais bem conceituadas compositoras do país. Sua obra radicalizou a história da Musica Popular Brasileira. Na arte cinematográfica, um exemplo de radicalismo extremo por uma causa de amor ao próximo e a vida está no filme – Um Ato de Coragem - um filme americano de 2002, dirigido por Nick Cassavetes e com Denzel Washington no papel principal, interpretando John Quincy Archibald, um pai cujo filho é diagnosticado com um cardiomegalia e descobre que não pode receber um transplante, pois o seu seguro de saúde (do tipo HMO) não cobre a condição. Archibald decide então tomar os pacientes de um hospital como reféns até que o hospital coloque o nome de seu filho na lista dos recipientes de órgãos. Ao final, o garoto recebe o transplante e o seu pai, mesmo recebendo as punições pelo ato radical extremo, sente-se vitorioso por ter salvado a vida do filho. Na América Latina, revoluções populares tiveram em Che Guevara, Fidel Castro, Anita Garibaldi, Antônio Conselheiro, Zumbi dos Palmares, Lamarca, Carlos Prestes, Olga Benário, Carlos Marighela, Hugo Chaves entre tantos outros líderes radicais, a firmeza ideológica e concepções seguras de luta e solidariedade que os fizeram referências de contestação e libertação em nome de um mundo mais justo. São tantos os exemplos de radicalismo ao longo da História, que suas finalidades, conceitos e concepções confrontam com as más intensões que existe por atrás do discurso ideológico contra pessoas que adotam ações e atitudes radicais progressistas contra o sistema que alimenta gratuitamente situações e formas de vida desiguais e desumanas. As compreensões para uma atitude radical, nas suas variadas formas de pensar, falar e agir pode assumir um entendimento progressista, conservador, utópico, fantasioso, ufanista ou moderno, alienado ou ingênuo, depende do grau e da extensão do que se pretende conquistar com tamanha ousadia, porque, ser radical é experimentar o sabor do questionamento, da crítica, da provocação ao novo, do não deixar-se alienar, da busca da solução, do direito ao contraditório e do diferente, pois o maior dos radicais deve ser, antes de tudo humano, demasiadamente humano.
Posted on: Wed, 19 Jun 2013 01:36:28 +0000

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