É PRECISO SABER VIVER / VIVER É ARTE (Antonio Carlos - TopicsExpress



          

É PRECISO SABER VIVER / VIVER É ARTE (Antonio Carlos Pinheiro) Não, não se trata da música de Roberto Carlos, senão de uma regra que torna mais fácil a convivência humana. Somos apontados, os brasileiros, entre outros pecadilhos, como dos mais impontuais. Não cumprimos horários e, o pior, sempre temos um bode expiatório a justificar essa falha. Brasileiro adora chegar atrasado aonde quer que vá. De um churrasco a que foi convidado por um amigo, a uma festa de formatura, ao local de prova, aquela para qual estudou nos últimos três anos. Parece aprazer-lhe a sensação de ser o último, quando consegue chegar e ser recebido, mesmo com atraso. Não tratemos de outros defeitos, que faríamos injustiça, em esquecer alguns deles, e a impontualidade, agora, é que nos interessa. O assunto veio à tona por um incidente ocorrido hoje entre mim e uma empresa, que me confirmou aquela de “quem não tem cabra, não vende cabrito”, mas há outro que aqui ficará mais bem adequado, pelo desfecho havido e ratificar a impontualidade, quando poderia ser pontual, mas escolheu manter a tradição. Faz bons anos, contratei com uma vidraçaria na Rua dos Afogados a compra de uns boxes para aplicar em dois armários da cozinha. Um preposto veio a minha casa, mediu o que era necessário, fez anotações, restando-me o compromisso de retornar à loja para fechar o negócio. Acertamos preço, assinei um compromisso de compra, e aí o detalhe que daria novo rumo à história: tudo acertado, o proprietário – com aquela cara de pau que identifica os trambiqueiros, acrescentou: - Meu amigo, sim, agora você irá aguardar o prazo de ... e disse o tempo em que os boxes ficariam prontos: 5 dias, 10 dias, não lembro mais, pois eram fabricados em Fortaleza. – Mas não fizeram menção a esse prazo! – Até na preocupação de atender bem, algo passa despercebido! – Nesse instante, lembrei que no intervalo havia o feriado de 21 de abril, além do transporte, e dei-lhe a colher de chá: - E o feriado de 21 não irá comprometer esse prazo, essa entrega? Aqui não contemplamos trambiqueiros, a proposta era falar sobre os impontuais. O cidadão empertigou-se, tomou tenência, como se diz: - O senhor não está acostumado a fazer negócio com homem, hem? – Estou, e com prazo também! – Vou lhe mostrar como até o dia tal (prazo fatal) a mercadoria lhe será entregue! Paramos por aí, tomei o rumo de casa. Minha função era aguardar, e papo terminava ali. Os boxes necessitavam de uns suportes para o que chamei um amigo que morava no Laranjal e, prestimosamente, fez como recomendado, tudo para não frustrar a aplicação do material. Passaram-se os dias. Não direi que estava ansioso, pois não era nenhum trabalho de parto, a primeira tevê, ou aquele computador com que você sonhou por bom tempo. Eram uns boxes pra cozinha. Sim, o prazo venceu. Dois ou três dias depois, ligam-me da loja. – Os boxes chegaram. Podemos deixar em sua casa? - Não, senhor? – Não, como? O senhor fez a compra e não vai receber? – Essa era a minha hora! – Lembra-se da advertência que fez quando ponderei a hipótese de poder haver atraso? – Tentou contemporizar: - O senhor entende. Em alguns momentos, vencemos nossos limites, e esses desacertos são corriqueiros! – Não, não irei receber, principalmente pra não ferir o seu brio, abalado quando questionei o prazo! Ele acreditou que as pessoas agem por impulso. Mais alguns dias, uma picape chega a minha porta. Nova tentativa de instalação dos tais boxes. – Nem desçam o material, que não irei receber! – Mas, moço, releve aquela história! Esse material só serve para sua casa: feito sob medida! – Percebendo que eu não iria ceder, retornou sem dizer mais nada. Dias depois, fui chamado à loja. O dono estava a fim de negociar. Entrei, fui chamado por ele. – Resolvi terminar com esse impasse. O senhor levas os boxes com um descontão, tá bom? – Não, fiz negócio com homem e não quero vê-lo fraquejar. Mais, seu serviço é de primeira, não quero o seu prejuízo! Resumindo, ele ficou com a mercadoria, não falamos mais sobre isso. Existe um livro, A ARTE DE VENDER, que tem levado muita gente a querer levar a coisa a sério: serem verdadeiros artistas. Ainda não havia o Código de Proteção e Defesa do Consumidor. Melhor para eles.
Posted on: Tue, 01 Oct 2013 23:52:28 +0000

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