É inegável que a pesquisa IBOPE, divulgada na segunda, 18.11, - TopicsExpress



          

É inegável que a pesquisa IBOPE, divulgada na segunda, 18.11, fortalece as chances da presidente Dilma e do PT na sucessão do ano que entra. Em todos os quatro cenários testados, Dilma amplia sua vantagem sobre seus prováveis concorrentes. No cenário mais provável, a petista abre, agora, uma diferença de 22 pontos sobre Aécio e Eduardo Campos (há um mês, essa diferença era de 17 pontos). Como esses números já foram amplamente divulgados nos jornais e nas redes sociais, o que interessa aqui é chamar atenção para alguns outros aspectos importantes revelados pela pesquisa e suas conexões com algumas decisões estratégicas de política econômica a serem tomadas em breve. O principal aspecto é que a distribuição das preferências eleitorais por renda e grau de escolaridade presente na pesquisa repete a curva do “lulismo”, confirmando a solidez da presença da candidata petista nos estratos mais frágeis da população e que respondem, também, pelo grosso do eleitorado nacional. Como se sabe, a partir dos trabalhos de André Singer e de outros, uma das inflexões mais importantes na recente historia eleitoral do país veio a ser a conquista, pela esquerda, dos estratos mais pobres da população, historicamente leais a candidatos conservadores. A partir de 2002 se inicia essa virada, que se repetiu, acentuada, em 2006 e 2010, respondendo, em grande medida, pelas vitórias petistas. Na pesquisa divulgada na última segunda-feira essa nova tendência se mantém. A preferência por Dilma se amplia e sua margem de vantagem aumenta na medida em que se passa das faixas mais altas para as mais baixas em termos de rendimento. O mesmo acontece quando percorremos, de cima para baixo, os níveis de escolaridade. Para se ter ideia da dimensão do fenômeno, entre os ganham até 1 salário mínimo, Dilma lidera por 40 pontos, decrescendo essa vantagem para 33 pontos (1 a 2 salários), 17 (2 a 5 salários) e 11 pontos (mais de 5). Na educação, Dilma sai de uma vantagem de 15 pontos, entre os que têm nível superior, para 36, entre os que só cursaram até a 4ª série do ensino fundamental. Essa distribuição favorece, como já se disse, a reeleição da atual presidente porque sugere um enraizamento sólido nas camadas mais amplas da população, reatualizando a tendência iniciada em 2002. Onde entram as conexões disso tudo com as decisões de política econômica mencionadas acima? Nos próximos 4 ou 5 meses, muito provavelmente o Banco Central dos EUA (o Fed) reverterá sua política monetária expansionista, que jogou na lona os juros nos países ricos e inundou de liquidez o resto do mundo, atraindo grandes massas de capital para os mercados emergentes. Isso provocou, entre nós, efeitos negativos e positivos. Os primeiros materializados na valorização excessiva do real, prejudicial à indústria e às exportações. Por outro lado, na dimensão positiva, ajudou a segurar a inflação, sustentando o poder aquisitivo das camadas mais pobres. A reversão desse quadro cria uma grande probabilidade de saída de capitais da periferia, criando dificuldades de financiamento para o Brasil e, mais gravemente, ameaçando reativar o processo inflacionário justamente no ano da sucessão presidencial. O mau gerenciamento até aqui da política fiscal brasileira só piora esse quadro. Trazendo o risco, para alguns iminente, de rebaixamento da classificação dos títulos brasileiros, o que forçaria saída adicional de capitais, obrigando aumento de juros internos e jogando mais lenha na inflação. O que isso tem a ver com a sucessão? Muita coisa, pois são justamente as camadas mais pobres da população – atualmente alinhadas com Dilma – as que mais estarão expostas aos efeitos corrosivos da inflação sobre seus rendimentos. Daí a necessidade política – estratégica mesmo – de uma política fiscal mais conservadora no curto prazo que, preservando as políticas sociais e o salário mínimo, prepare o país para enfrentar a nova conjuntura, provavelmente bem delineada lá por meados de 2014. O risco é que, até agora, Dilma tem se mostrado refratária a correções de rumo, mesmo aconselhada por Lula, que tem pressionado nessa direção temendo os efeitos do novo cenário internacional no quadro eleitoral de 2014. Em resumo: dificilmente Aécio ou Eduardo terão meios próprios de desafiar seriamente a postulação de Dilma, dado o enraizamento da candidata petista nas camadas mais pobres da população. A teimosia da presidente, porém, pode fazer contra ela o que os seus adversários não podem, uma vez que a retomada da inflação atinge em cheio sua principal base eleitoral, arrriscando um quadro de incerteza e turbulências que ainda pode ser evitado, caso correções de política sejam efetuadas em tempo hábil. Ainda uma vez, desconfio que boa parte dos problemas da presidente tem origem na sua incapacidade de dialogar e de ouvir.
Posted on: Wed, 20 Nov 2013 04:16:04 +0000

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