É possível que tenha sido sempre assim. Na história dos nossos - TopicsExpress



          

É possível que tenha sido sempre assim. Na história dos nossos avós e do passado que ouviram contar, existem personagens que se julgavam grandes e não passavam de anões, gente com uma ideia deformada de si própria e os que, renegando o passado, passaram a ser traidores no seu campo de batalha e ‘cristãos-novos’ nas novas barricadas. Somos estes e não outros. Somos assim, voláteis, ambiciosos, cegos tantas vezes por nos convencermos de uma verdade que só nós vemos. Em todas as gerações encontramos sempre os que poderiam ser tudo, mas que se condenaram à derrota ou, ainda pior, que acabaram por incendiar o seu tempo, como Nero a sua Roma amada. É possível que tenha sido sempre assim, mas também não me admiraria que este tempo, o nosso, supere todos os outros no gosto pelo ridículo. Dou-lhe três exemplos – somente os que me lembro, sem esforço, deste quente Agosto. Primeiro, Xanana Gusmão. Soubemos por um jornal russo, numa notícia não desmentida (pelo menos até ao momento em que a escrevo), que Timor aceitou entregar o voto à Rússia para que a Expo em 2020 se realize em Moscovo. O voto depositado no Bureau International d’Expositions terá sido entregue a troco da edição de um livro de poemas do actual primeiro-ministro e figura maior da revolução timorense, Xanana Gusmão. Ao ler a notícia passei para outra. Censurei-a mentalmente, apaguei-a sem pensar mais no assunto. Horas depois voltei ao ‘lugar do crime’, reli-a, procurei desmentidos ou desenvolvimentos. Sinto-me traído por ter chorado Xanana na sua primeira visita a Portugal, por lhe ter acenado e dito aos meus filhos que, se ainda existiam heróis, ele era um deles. O que resistira, o que dera a vida em nome de um ideal, o que se sacrificara, afinal ao fim de um pouco mais de dez anos no poder, transformou-se numa versão barata dos políticos que tanto execrou – gente que se vendia por lugares, protagonismo ou dinheiro. Xanana, com crescentes e evidentes tiques nos últimos anos, fez ou pactuou com um crime moral ainda pior: vendeu o país à sua própria vaidade. Ofereceu o direito de escolha da sua pátria em troca da edição de um livro de poemas (Meu Mar). O jornal (Novaya Gazeta) citou documentos de diplomatas russos. A ser verdade não há pior do que sermos enganados por quem nos levou a acreditar que o mundo era um lugar de luz e esperança. Um pequeno excerto de um pueril poema… Mar Meu Pudesse eu Prender entre os dedos Os suspiros do mar E distribui-los às crianças Pudesse eu Acariciar com os dedos A suave brisa das ondas E sentir cabelos De crianças… Segundo, Carlos Santos Ferreira. O ex-presidente do BCP, colocado na liderança do banco fundado por Jardim Gonçalves por um movimento de accionistas que ficará na história do sistema financeiro português pelas piores razões, deu uma interessante entrevista a um jornal económico. Entre várias considerações sobre a banca, o poder e a própria vida, afirmou que Jardim Gonçalves foi apenas um momento na história do BCP. Santos Ferreira, que trocara a presidência da Caixa Geral de Depósitos pela do então maior banco privado português, empurrado por interesses políticos (influência do governo de José Sócrates e apoio de Vítor Constâncio) e por accionistas que tinham ganho poder com a compra de acções com dinheiro emprestado por bancos rivais, teve a temeridade de o afirmar. Jardim Gonçalves que, independentemente do que se possa pensar dos processos em que está envolvido, ‘inventou’ o BCP e transformou, em poucos anos, uma pequena instituição fundada por investidores do norte na mais poderosa âncora financeira do país. Que internacionalizou o banco como nenhum antes dele. Que o conseguiu sem ser Espírito Santo, Mello ou Champalimaud. Uma coisa é certa e deve ser louvada: é preciso ter ‘lata’ e confiança em si próprio para o dizer. Uma loucura saudável, na melhor das hipóteses. Finalmente, Carvalho da Silva e o seu abandono do Partido Comunista. O que dizer? Duas ou três coisas simples, óbvias para quem não está ‘apaixonado’ pela hipótese de ser Presidente da República ou embevecido por estar ao lado de um suposto forte candidato. Manuel Carvalho da Silva, filho de pequenos agricultores que percorreu um caminho digno e respeitável, foi também traído pela ambição do umbigo. Manteve-se no PCP para continuar a liderar a CGTP. Deixou de ser comunista por achar que uma candidatura a Belém só poderá ser travada com sucesso se surgir aos olhos do país, no momento certo, como um ex-comunista. Em palavras pouco poéticas, utilizou a militância enquanto a militância lhe foi útil e descartou-a quando deixou de o ser. Um dia entenderá na pele o que já leu nos livros. Mas que acredita nunca lhe acontecerá a si. Para os seus camaradas de sempre passou a ser um oportunista. Para o país ‘silencioso’ será o que esconde quem é para conquistar votos. Nunca mais será aceite pela sua família e jamais deixará de ser visita nas casas adoptivas. Após as eleições presidenciais, em 2016, regressará ao mundo real e a uma longa estrada onde caminhará mais sozinho do que alguma vez pensou. Um abraço antecipado. E sincero. l Luís Osório
Posted on: Thu, 05 Sep 2013 11:19:16 +0000

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