É todo sombra o extenso quintal. O raio do sol raramente o - TopicsExpress



          

É todo sombra o extenso quintal. O raio do sol raramente o penetra. Formicívoro e frutífero se mostra. O cuidado, severo, dado pelo homem foi o ensaio preciso para a sua permanência. De maio a maio é fecundo. O seu ser, papirífero, respira vida. É todo vida! Se duro esnífero o corta, suporta. Um pequeno arroio o nutre. Gerações passaram endurida de luta e ele permaneceu ao lado. Completo, equilibrado. Já teve a pele carpida e já fora lavrado. No seu corpo, repleto e macio, vivi. E agora, nesta vida temida ao ventre da terra refaço o caminho do feto. “O rumor das folhas rasgando o silêncio em descuido proposital oficializa em ti um sopro de alegria. É inútil dissimular, é inútil persuadir o meu cativo coração a não ouvir o teu chamado. Naqueles velhos e passados tempos de minha criancice, de nossas traquinagens, quantas vezes ondulei-me a ti lépido e sorrateiramente em tuas árvores frutíferas, em teu límpido arroio, em tuas sombras prazeirosas. Quantas vezes cacei com armas tão poderosas (estilingues, bodoques, fundas) em teu corpo/campo existencial: calangos, lagartixas, preás, rolinhas, periquitos, tizius, curiós, guriatãs, almas de gatos, bem-te-vis, pássaros pretos, papagaios, bico de lacra e feijós. Quantas vezes, ao sol poente, pendi a cabeça ao teu seio e adormeci feliz. Sempre olhando no céu as estrelas. Quantas vezes abristes à mim (desvairadamente generoso) as tuas asas de galhos e cipós. Te lembras? Tens ainda a alma habitada por tão doce inspiração? Vês?!!! Sou ainda o mesmo menino, ah, essas rugas que afloram em meu rosto? São apenas sulcos memoriais. Te recordas? Eu era teu e tu eras meu, todinho meu! Suavizamos na mesma prece, no mesmo ombro, na mesma alegria. Te lembras? A generosidade do tempo acentuou os nossos corpos e nos deu total liberdade para sermos um do outro: amáveis e inalcançáveis como só os pássaros o são. O fruto do teu corpo presenteou ao meu corpo com tua frutificação de vida. Por isto esta volta, por isto este peso ao meu ombro: a saudade fabrica sofrimento! E como dói a saudade! Ah, que brisa tão suave; é certo que sei que choras, de alegria, claro! Vês?!!! Eu também choro de alegria e de um entusiasmo de amor. Podes sentir as minhas lágrimas de sal fertilizando o teu corpo? É certo que sinto as tuas lágrimas de brisa sondando o meu coração. E até que me reste um último sopro de vida ninguém mais nos roubará um do outro. Daqui em diante seremos um só corpo. Tu serás meu e eu serei teu... ...eternamente!” (...) OXORONGÁ, Alufá-Licutã. In A Crucificação da Memória
Posted on: Sun, 01 Sep 2013 11:20:00 +0000

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