És má Tu és má. Genuinamente má. E maldade assim o é, - TopicsExpress



          

És má Tu és má. Genuinamente má. E maldade assim o é, quando o outro não existe. Quando a gente é único no ringue. Quando, mesmo sem as luvas adversárias, insistimos em nocautear. Tu és má por teres feito da confiança uma parte fria do plano de arquitetar mentiras. Por usar com a panela cheia da bondade alheia, tuas pitadas de engodos. E maldade é enxergar um, onde há dois. És má porque zombas de quem já falhou. De quem ainda, se sufoca em migalhas de esperança. E maldade é apagar as cinzas do cigarro de cigana, nas cartas com caligrafias de criança. Quando fores ver, todo o buraco tem teus remos na areia. Tem teus penhascos de solidão alegre. Tem brincos e presilhas de cabelo, nas festas escuras que visitas e tramas nos olhares. E maldade é reconhecer respeito e pichar nos muros ódio. É rascunhar sobre pinturas de casas e grades de madeira branca. És má porque andas com maus. Porque atrais afins nas alcovas dos pretéritos. És má por não acreditares em mãos de luz e te enlaçares a desejos vãos, a raízes que sugam seiva boa. E maldade é silenciar frente ao pedido de não te, própria, trair. É tirotear ameaças de beijo, construir pontes onde qualquer barco, por baixo, a faz abrir. És má na medida em que sorris. Porque sorrir é a paz que não se deixou o outro ter. É saber que, por dentro, tens a chave da cura, e a balanceias entre os dedos, sob a chuva e frente ao ralo do mundo. E maldade é a mesma face da ignorância, da culpa da gente, das reversões de dores da gente, das devoluções sem lição, daquilo que o mundo nos trouxe. És má porque não ouves. Porque não atentas aos cristais. Porque preferes as chamas das rodas, que a água das lavagens. E maldade é a mão que não se abre e esconde as linhas. As vestes que não cobrem os que tem frio. É as sobras que se oferece à cães destinados aos sacrifícios. És má porque tenteias os bons. E negocias tuas culpas pondo em injusta balança. És má porque mascaras outros também de maus. És má porque pormenorizas os maus. Porque inocentas teus capangas. E maldade é justificar a fome dos outros, pelo próprio prato vazio. Pela própria ganancia. Pela própria arte de se fazer imaginar e sumir, no teatro das ilusões de Maya. És má porque devolves a ironia ao silêncio. Silêncio este que também é prece para que te encontres. Para que a máscara não te vire rosto. Para que não te finjas mais de turista nos carnavais da carne. E maldade é usar um abadá com guampas, enquanto teu filho te solicita amparo. És má porque é na maldade que resides. Porque te inferiorizas julgando a absolvição divina por pena. E maldade é chamar os anjos, por trote ao telefone. Por voltares pra dentro e guardares no fundo, os corpos que derrubaste. E quem derrubou tantos, um dia conhecerá o chão. És má por confundires desapego com sabedoria. Por confundires liberdade com engano. Por confundires estrada com atalho. Indicação com aposta. Funk com MPB. E maldade é judiar as cordas do coração de quem é alérgico a mentiras. Intolerante a jogos. Que só descobre que é um jogo depois que perde. Jogo que nunca acaba empatado. És má por não teres fim. Por não matares e deixares pendurado as teias. És má por ofereceres abrigo e fugires à noite. E maldade é caçoar dos ladrões que Jesus levou consigo. É convidar amigas para o deleite dos sentidos. E maldade é saberes da faca e afiares as duas pontas. És má, vergonhosamente má.
Posted on: Wed, 18 Sep 2013 23:10:16 +0000

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