ÔNIBUS BRASILEIRO, crônica desta terça-feira no jornal Hoje em - TopicsExpress



          

ÔNIBUS BRASILEIRO, crônica desta terça-feira no jornal Hoje em Dia. Ônibus brasileiro é como uma caixa de lápis de cor. Não com lápis uniformes, bem acomodados, apontadinhos, mas, sim, marcados pelo uso. Alguns com a ponta quebrada, outros já quase no fim. Todos eles, na “caixa”, indo colorir as ruas, fábricas, empresas, escolas, instituições públicas, bares, praias... Desconfortáveis, lotados, muitas vezes atrasados, os ônibus são para a maioria da população a única forma de vencer as grandes distâncias na cidade. Sem eles não chegariam ao trabalho, ao lazer, a casa dos parentes, dos amigos, dos amores. Não teriam como transportar muitos de seus problemas. No ponto de parada, sob um sol de 40 graus no nordeste, ou de casaco, luvas e touca no sul, ou mesmo debaixo de chuva, a visão do ônibus que recolhe os passageiros aciona mecanismos de gratidão, alívio e crença de que tudo pode dar certo. Ao embarcar, alguns problemas são deixados pra trás, adiados - se distanciam na medida em que o ônibus segue em frente. Outros grudam no corpo, dentro da cabeça, nos bolsos e bolsas. As pessoas colhidas em cada ponto, de uma forma ou de outra, se sentem acolhidas e acabam formando um grupo reunido ao acaso dentro da grande caixa móvel. Mesmo que por tempo curto, ali todos serão companheiros de uma mesma viagem. Tarde quente na periferia de Salvador. Ônibus lotado para, atendendo ao sinal de um homem. Há muitos passageiros em pé. Seria apenas mais um embarque não fosse o caixãozinho azul trazido por ele. A cena toca os “companheiros de viagem” e alguém cede o lugar a ele. Um silêncio ritualístico toma conta do ônibus e se mantém até que o homem – de olhar sempre baixo – desce em seu destino, levando consigo a sua história. Noite de inverno, 23 h. Ônibus sobe as ruas íngremes do morro do Cafezal, em Belo Horizonte. Passageiros cochilam nos bancos. Um pequeno grupo com instrumentos de percussão, no banco de trás, embala a subida sonolenta com um pagode. Dois meninos, menores de dez anos, contam o dinheiro trocado por amendoim torrado, naquela noite. Provavelmente alguém os espera em casa para o acerto de contas.
Posted on: Tue, 10 Sep 2013 15:28:48 +0000

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