8º CAPÍTULO - Não é normal odiar a mãe Acho que estou lhe - TopicsExpress



          

8º CAPÍTULO - Não é normal odiar a mãe Acho que estou lhe cansando de falar de mim... É que eu estava muito baixo-astral ao tecer os últimos capítulos... por causa da escolha que fiz... Já escrever o capítulo anterior, com essas historinhas de criança, foi tão legal que me senti mais leve. Ri das linhas como se leitor fosse... (Oh, modéstia!) E que saudade dos velhos tempos do Brasil de 2004, quando ainda existia aquele tipo de TV a cabo com cabo mesmo... coisa mais antiga, minha nossa! Que saudade dessa mãe torcedora do Paraná Clube e dos percalços que ela passava com seus filhos, adoráveis e fanáticos torcedores, todos de times diferentes! Vamos de volta para a história?! Ah, uma coisa: descobri agora no fim da vida que escrever é um vício: igualzinho uma droga bem forte, daquelas que te fazem ficar viciado mesmo! Quanto tempo perdido, meu deus... eu, que poderia ter escrito uma biblioteca toda... Oh, modéstia... Ah, deixa para lá... (Eu ri.) CAPÍTULO 8 - Não é normal odiar a mãe Jonathan está vendo televisão (aberta) na sala sozinho quando batem na porta e ele escuta seu nome. Abre a porta. - Achou direitinho, Mike?! - Vim de táxi, né?! - Imagina, pegar táxi para vir tão pertinho. - Se é pertinho, por que não foi me buscar no hotel? - Preguiiiiiça! - Vagabundo! - Eu sou vagabundo mesmo! - Me diz aí, a tua irmã tá em casa? - Tá... eu não falei que ela ia estar te esperando peladinha? Trouxe a camisinha? - Não... - Mentira, bobão! Ela foi para Curitiba com a minha mãe... passear no shopping! - E o Max... ó: trouxe o boné para ele... o mais novo que eu tinha... - O Maxwell tá na aula de capoeira. - Jonathan fecha a porta. - Então ele faz capoeira... Bom... "Eschcutaquí", tem um moleque na frente da tua casa. - Que moleque? Mike abre a porta de volta e aponta para o Thomas. - Olha lá, tem um - como é que vocês dizem mesmo? - tem um PI-Á na frente da tua casa! - É o Thomas, o caçula... - Que família grande, hein?! Não estou acostumado... - Você só tem um irmão, não é? Como é o nome dele? - É André. Ele estuda medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro. - Nossa, então ele deve ser muito inteligente! Você puxou ele ou é burro? - Acho que eu sou burro porque não gosto de estudar... - Então também sou burro. (Ri.) - Quantos anos tem o Thomas? - Dez anos. E tu? - Eu tenho treze. - Eu também, Mike... - E o Max? - Treze também. - Treze? Então ele que é o adotado? - Adotado? - É, aquela história do orfanato é verdade então? - Ninguém é adotado aqui, seu imbecil! Nós somos gêmeos! - Nossa, não parece! - Não somos gêmeos idênticos, né?! - Mas ele é louro, tu é moreno. Tua irmã é um lourona e o molequinho ali também é lourinho... - Eu não sou adotado! Puxei meu avô Francisco, que era moreno. também. E era carioca! Igual você. - Era? Por que "era"? Teu avô carioca morreu? - Hum hum... Antes da minha mãe nascer... E os meus avós por parte de pai morreram também, antes de minha mãe se casar com meu pai. - Nossa, que foda não ter avós... - É... Inclusive eu soube que minha mãe conheceu meu pai no velório dos meus avós. (Ri.) - Que legal! E quantos anos tem a Jéssica? - Que Jéssica? - Desculpa... como é mesmo o nome dela? - Porra, tu é burro mesmo, hein?! Tu fica a fim da guria e não presta nem para memlorizar o nome dela? - É que vocês todos têm nomes complicados, tudo em inglês! - Humpf... olha quem fala... Como é teu nome mesmo? Mike ri, sem graça... - Está bem... e vocês todos estudam no mesmo colégio? - Não, o Thomas estuda em escola pública... no Sagrado, aqui pertinho também... Colégio bom. estudei lá no primário. Me diga uma coisa: você morava no Rio de Janeiro mesmo ou no subúrbio? - No Rio mesmo, na zona sul em Ipanema, conhece? - Só de ouvir falar... Casa ou apartamento? - Apartamento. De frente para o mar... - Nossa mas como tu é metido, Mike! - Quer dizer, meio que de frente para o mar... Meio de enviesado, sabe...? - Eu falei que você era chique, Mike: apartamento em Copacabana de frente para o mar! Vê muito artista lá? - Mais ou menos, mas é em Ipanema! - O que eu disse mesmo? - Você falou Copacabana. Eu moro na praia de Ipanema! - Chique do mesmo jeito. Chique e metido pra caraio! - Ah, vai se foder, Jo-na-than! - Mas nós temos casa na praia de Ipanema também! - É Thomas se atravessando. - Oi? - Mike não viu ele entrar. - Nossa Ipanema é muito linda! - Prossegue Thomas. - Cala a boca, Thomas! Você não sabe o que você tá falando! - Qual é a diferença, Jon? - Olha para o Mike e pergunta. - Quem é você? - Eu sou o Mike. E você é o Thomas?! - Sou... Você morava na praia de Ipanema, é? - É, Thomas... mas a Ipanema dele é no Rio de Janeiro, entendeu? - Qual é a melhor? Jonathan ri. - Claro que é a paria de Ipanema no Rio, né, Thomas? Óbvio! - O que é "óbvio"? - Sai pra lá, Thomas. Vai brincar, vai! Isso não é conversa para criança! - Eu prefiro a praia de Ipanema do Paraná! - Thomas se senta no sofá e muda o canal da televisão com o controle remoto. - Tem gurias bonitas na praia do Paraná? - Tem sim, Mike! - Então eu preciso conhecer essa praia. - Credo, Mike! - Jonathan intervém. - Cê vai odiar as praias do Paraná! - Por quê? - Nem te digo nada! São horríveis perto das praias do Rio! - A gente pode te levar lá, Mike. - Thomas se vira para Jonathan e pergunta, inocente: "Jonathan, vamos pedir para o pai levar o Mike com a gente para conhecer nossa praia de Ipanema?" - Tá louco, piá? Tamos no inverno! - Eu quis dizer quando chegar o verão! Ehhhhhhh. Piá chato! Mike ri dos dois irmãos brigando. - Vai embora daqui, me deixa em paz com meu amigo! Vai brincar lá fora! Vai, Thomas! - Eu vou a hora que eu quiser! Você não manda em mim seu babaca! Essa casa também é minha! - Babaca é você, piazinho de merda! Vou te dar uns tapas! - avança em direção ao Thomas, que sai correndo pro quintal, gritando "Babaca de merda! O Jonathan é um babaca de merda!" - Nossa, que adorável! - Mike ri. - Odeio meu irmão! - Eu também! - Normal... - Ele é vascaíno igual a tua mãe, é? - Já é um bom motivo para odiar, né?! - Sei lá. - Jonathan muda o canal da TV para onde ele estava assistindo antes. - Odeio minha mãe. - Sério? - Sério. - Isso não é normal. O que aconteceu? - Vamos falar de outra coisa, Jonathan? Você deve ter videogame, né? - Tenho, mas já vou avisando que é de pobre! Quer jogar? *** Naquela noite, Jonathan e Thomas jantam com Celma, prestando atenção na novela das sete, que está na última semana. A TV fica na copa, e Celma não tira os olhos da telinha de vinte polegadas. - Thomas, por favor, me alcance a salada. - Eu não sou teu garçom, Jonathan! - Thomas, a salada tá do teu lado. Por favor, me alcance... - Eu já disse que não sou teu garçom, Jonathan! - Thomás no Krul, por favor passa a salada para mim! - Você quer salada? Levante e pegue! - Aviso a todos: Tomás no Krul não usa meu computador mais hoje! - Mãe, olha o Jonathan! (Fazendo cara e voz de choro.) - Custa alcançar a salada para teu irmão? Deixa eu ouvir a novela! - Pode deixar, mãe! Eu não sou aleijado. Olha: vou levantar e pegar a salada que está ao lado do Tomás no Krul! - Jonathan, para de chamá-lo de Thomás no Krul! Já não chega o bullying que ele sofre na escola?! - Eu preciso usar o computador! - Precisa? Nossa! Por que um garoto de dez anos precisa usar um computador? - Decerto ele tem algum trabalho escolar, Jonathan! - Decerto ele tem que ficar jogando no meu computador, mãe! - Cala a boca os dois! Deixa eu ouvir a novela! - Mas eu preciso usar o computador esta noite, mãe! - Não vou deixar você usar! - Jonathan faz careta "feia" para o pobrezinho e fala baixinho "Thomás no Krul"... - Mãe, olha o Jonathan! - Quem manda você ser ruim para o teu irmão?! - Seja bonzinho para mim que eu deixo! - E volta a fazer careta e balbuciar bem baixinho "Thomás no Kru-ul"... "Thomás no Kru-ul"... Thomas começa a chorar. - Eu te odeio Jonathan! - Thomás no Kru-ul. (Jonathan fala mais baixinho ainda e Celma não escuta.) - O que você disse, Thomas?! - Celma pega o controle remoto e põe a TV no modo "mudo". - Eu disse que eu odeio - chora - o Jonathan! - Claro que você não odeia o teu irmão! Só está chateado com ele! Celma desliga o botão "mudo" da TV e volta a ver novela. - Não! Eu odeio ele mesmo! - Então olha para o Jonathan e fala na cara dele, bem pertinho: "Eu te odeio, meu irmão!" Em seguida vai saindo devagar da copa. - Volta aqui, Thomas: você não pode odiar o teu irmão! - É verdade, Tom: você tem que me amar! Você tem que me amar! - Eu O-DEIIIIIIIIIIIII-OOOOOOOOOOÔ ele! - Volta aqui - diz Celma, bem brava por perder parte da novela. - Volta A-QUÍ THÔ-MAS! Devido à maneira que ela falou, ele retrocede e chega bem perto dela, ainda chorando... Celma aperta o botão "mudo" de novo. - Irmãos não odeiam irmãos! Entende por que você não pode odiar teu irmão? - Posso sim! Jonathan fica parado fazendo cara de santinho. Thomas se derrete em lágrimas. - Não pode não! Qual é o irmão que vai odiar o próprio irmão, hein? - O Mike odeia. - Quem é Mike? - O amigo do Jonathan que veio aqui em casa hoje! Aquele que tudo nem alto e chiando... - Como você sabe que ele odeia o irmão dele? - Ué, porque ele falou! Eu ouvi tudo! - Jonathan?! - O olhar de Celma exige uma resposta, mas Jonathan se cala. - Claro que não, Thomas! Ele deve ter falado brincando... - Celma custa a acreditar. - Odeia sim. E o pior, mãe, é que ele odeia a mãe dele também! - Você tá louco, Thomas? Qual é o filho que odeia a própria mãe? - O Mike odeia! - Thomas fala isso e sai correndo, sobe a escada para seu quarto. - Eu te odeio, Jonathan! - Jonathan?! Que história é essa?
Posted on: Sat, 29 Jun 2013 01:58:15 +0000

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