BONS VENTOS O vento vinha do mar e costumava me visitar Ele chegava com intimidade Como se fosse amigo de verdade Ou da família um parente Sempre muito contente E entrava sem bater Sem se anunciar... Circulava pela casa Penetrava aqui e acolá Às vezes assobiava Querendo se amostrar Outras vezes se calava Sem nada para contar... Uma vez chegou aborrecido Bebera em alto mar Como um desconhecido Estranho e tonto Dando voltas pela casa Começou a derrubar O que estivesse pela frente Fosse frio ou fosse quente Tirando do lugar A toalha da mesa de jantar O jarro de Sua Alteza Que veio de Madagascar Um quadro que era uma beleza O mais lindo do lugar... Depois ainda vomitou Um pelicano que engolira por engano A placa de minha rua A foto de uma mulher nua E o pneu de um aeroplano... Finalmente Deu uma rabissaca E com cara de ressaca Saiu pela porta da frente E foi andar na praia Logo depois da pista Onde levou uma vaia Por ter levantado a saia De uma descuidada turista... Assim é o vento E quando eu falo não invento Tem dia que é gostoso Tem dia que é um tormento As vezes incomoda As vezes cria moda... Contudo já decidi Sobre ele tenho opinião Muito bem formada Prefiro uma boa brisa Que a nossa face alisa Do que um furacão Ou uma invernada... Para o vento que vem do mar Mantenho minha casa aberta Quase sem nenhuma coberta Para ele poder entrar Esperando que em boa hora Ele resolva ir embora Deixando minha casa Do jeito que ela estava No momento em que entrou Sem nada ser quebrado Sem nada ter levado Valendo o ditado Que tudo ali ficou Como fora encontrado Quando ele lá chegou... JOSÉ CARDOSO DA CUNHA FILHO
Posted on: Sun, 18 Aug 2013 13:54:02 +0000
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