Compartilhando Dr. Rubens Amaral Carrego o reflexo da luz de meu pai e sei que todos, de uma forma ou outra, caminham por essa vida com as luzes refletidas dos pais emoldurando a silhueta da personalidade e do caráter. Saúdo também os filhos de Santos acolhendo-os com os pais nesta comunhão fraterna de símbolos e família. Saudar significa mais que cumprimentar. Saudar significa desejar saúde, felicitar. Assim, saúdo pais e filhos por meio de uma carta muito especial. Ela me foi enviada, pelo meu pai, em 1967, quando eu tinha 17 anos. Tempos maravilhosos de uma juventude sadia, cheia de esperança, do Colégio Santista, onde comigo estudava o então menino Jairo, grande amigo, fundador e editor do Boqnews, das músicas italianas, do Ray Conniff, dos Beatles, da Jovem Guarda, dos bailinhos da vitrola Sonata em qualquer garagem ou fundo de quintal, da dança de rosto colado, dos primeiros beijinhos no cinema, das amizades e confidências nas conversas de rua, do jogo de taco, das bolinhas de gude, dos fuscas de “tala larga”, dos rachas no canal 7, enfim, de muitos sonhos, alguns, abortados pela revolução. Tempos que não voltam, mas que forjaram o caráter de milhares de jovens, ontem filhos, hoje pais heróis a conviver com um Brasil que continua ainda muito abortivo em “apagões” de toda espécie, principalmente, em “apagões” de valores causados por uma corja podre de políticos corruptos. Mas nós Pais com P maiúsculo continuamos sonhando e amando e, somente por isso, permanecemos em pé, porque quem ama, acredita e quem acredita, vive. Esta carta atualizadíssima, apesar de passados 46 anos, é minha homenagem aos pais e filhos de Santos. Carta a um adolescente Meu Filho, Escrevo-te esta carta porque sinto saudade. Antes éramos um; tu estavas em meu mundo e, aos poucos, tiveste que construir o teu. Gostaria de saber se nele existe felicidade, se tens um ideal, se estás conseguindo sobreviver, o que não é fácil. Vejo-te todos os dias. Aspecto saudável, cabelos longos e calças estreitas, turbilhonando entre inúmeras solicitações e inquieto a discutir com o futuro, mas sinto que a distância aumenta gradualmente, e logo estaremos irremediavelmente separados por uma geração. É verdade, levas contigo a minha semelhança que, espero, possa atenuar as incertezas da jornada, mas somente isso não te bastará. Cada vez que a esfinge da existência levantar à tua frente a barreira do decifra-me ou te devoro, recorre ao bom Amigo de que ouviste falar em nossa casa e que poderás encontrar sempre à beira de tua estrada. Ele conhece todas as respostas e prometeu-nos ser o Caminho, a Verdade e a Vida; a Ele haverei de recomendar-te todos os dias. Faze isto, vive tua vida na plenitude, alegre e despreocupado, pois é necessário que saibas como ser feliz para seres integralmente homem; não te importes muito com aparentes derrotas; elas mais do que as vitórias te convencerão que o essencial é reagir tenazmente. Se tiveres vagar, responde-me esta carta, porque sinto saudade, mas não te percas em olhar para trás, para mim. Se caminhares para o sol não verás sombras à tua frente e, acima das contingências de espaço e tempo, estaremos sempre unidos Naquele que antes de nos fazer pai e filho, nos fez, a todos, Seus irmãos. Até breve, Raul Amaral.
Posted on: Sun, 11 Aug 2013 04:01:41 +0000