Diversidade e dispersão: as complexidades ganharam as ruas É - TopicsExpress



          

Diversidade e dispersão: as complexidades ganharam as ruas É certo que, infelizmente, pelo menos em termos da mídia, os atos de violência têm ofuscado em muitos momentos a real importância deste movimento histórico em todo o Pais em que as pessoas tomam a rua para manifestar-se, para protestar. Ocupar o espaço público e tomar a cidade materializa esse desejo negado de uma cidadania plena. Reivindicar e exigir um Brasil melhor, mais justo, menos excludente, menos opaco. Cobrar que os políticos sejam mais republicanos e cuidem mais do bem-estar de todos e menos dos seus próprios bens. . Aqui falo menos, então, desse lado explosivo que a mídia tem realçado, mas do movimento que tem levado tanta e tanta gente às ruas. O que os baderneiros, vândalos e mesmo policiais despreparados querem, bem se sabe: o confronto, a agressão, impor sofrimento moral e físico ao outro. Melhor ainda se, sob a fumaça da depredação, ainda der para levar alguns celulares, computadores e objetos afins. Mas isso é caso de polícia. E a polícia que dê conta disso. Se não está preparada, que se qualifique. Torne-se estratégica. Atue com inteligência. Triste que este esperado momento de luta legítima por direitos ganhando esta faceta criminalizada. Por isso mesmo nunca é demais repetir que a essência de tudo isso é outra. Toda essa mobilização exige melhor compreensão mesmo em função de sua natureza contemporânea. Lado a lado nas avenidas desfilam causas históricas e outras bem mais recentes, Causas que são de todos, ao lado de outras de pequenos grupos – e todas tão legítimas. Grita-se contra os 20 centavos da tarifa de transporte, mas também contra a escravidão fiscal a que o Estado submete os trabalhadores que entregam quatro meses de trabalho para ter como retorno uma oferta pífia de serviços públicos. Grita-se contra a indigna qualidade da saúde pública, mas também contra o overbooking nos planos privados que se tornaram um martírio para quem deles depende. E não é à toa que os manifestantes se opõem e reagem à presença de partidos e mesmos centrais sindicais – contra essa política institucional há um ressentimento que parece agora também eclodir. A falsa sensação de participação democrática pelo voto criou esse ressentimento subterrâneo que emergiu e agora exala pelas ruas. O cidadão participa, ao votar, de um processo político, que institui mandatários e legisladores que depois em geral vão frustrá-lo, quando não traí-lo. E contra os quais nada pode fazer, uma vez que as entranhas da política institucionalizaram mecanismos cruéis de empoderamento e enriquecimento desses eleitos. Para que este movimento se efetive como momento real de mudança deve-se cuidar para que, primeiramente, prevaleça o caráter reivindicatório e politizado da mobilização. E que em segundo lugar, e talvez o grande desafio, que essa diversidade de reivindicações, protestos e bandeiras não se perca e se disperse na sua própria heterogeneidade. Nesse nosso despertar de inverno, o problema não está na diversidade de nossas propostas e reivindicações. Isso mais nos aproxima e fortalece do que o contrário. O risco está na dispersão, na falta de clareza em relação a interlocutores e líderes. Há evidentemente em ação uma gigantesca energia. O rio saiu do leito. Quem quer manter as coisas como estão faz um tipo de aposta muito pouco edificante e cidadã: torce para que esta Copa em disputa se encerre logo ( como se este fosse de verdade um fato determinante) e que a mobilização se disperse e fragilize na sua própria dificuldade de canalização. Para nós brasileiros, a complexidade de nosso tempo ganhou definitivamente ganhou as ruas.
Posted on: Mon, 24 Jun 2013 01:33:57 +0000

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