Dois anos de Governo: pesadelo e mitos Dois anos depois das - TopicsExpress



          

Dois anos de Governo: pesadelo e mitos Dois anos depois das eleições de 5 de junho de 2011 temos vivido um pesadelo. Não vale a pena negá-lo: pagamos mais impostos, recebemos menores salários, o desemprego disparou e a depressão é geral. Não quero com isto apenas dizer que a culpa é do Governo. Nem deste nem dos anteriores, porque não tem de haver necessariamente um culpado para tudo o que passamos. Tento, apenas, objetivamente analisar o pesadelo. Mas vivemos, também, dois anos de mitos. O mais evidente é que o pesadelo ia passar depressa. As contas do Governo saíram todas furadas. E os críticos da oposição, todos contentes, disseram que tinham razão. Só que... esses críticos eram (salvo raras e honrosas exceções) os mesmos que nos conduziram ao pesadelo. E por isso, as suas palavras não têm tido o eco que eles esperariam. Outro mito é o do governo pequeno de mais. Ouço muita gente estimável dizer isso. Mas não concordo. O Governo até poderia ser mais pequeno. O que ele não soube fazer - e isso, sim, é culpa própria - foi ouvir os outros. Trabalhar com os outros. Estabelecer compromissos com os outros. Imaginem um barco a afundar no qual o comandante e a sua equipa não querem a colaboração dos passageiros para salvar o que ainda se pode salvar. Foi mais ou menos o que tivemos. Outro mito, ainda, é o de que o problema é Vítor Gaspar. Também será. Mas é escusado acusá-lo de não ter sensibilidade política. Um ministro das Finanças cheio de sensibilidade política é um Teixeira dos Santos, disposto a permitir que se façam autoestradas desnecessárias só para que os eleitores gostem do primeiro-ministro. Nenhum ministro das Finanças com coração político enfrenta uma crise deste tamanho. De Ernâni Lopes, que hoje é considerado um santo, bem me lembro do que se dizia. Gaspar não tem jeito para intermezzos políticos, mas sem teimosia nenhum ministro das Finanças aguenta. O mal é deixar que seja o único a mandar... Quando as coisas estiverem mais encaminhadas, talvez o possamos mandar embora, sem sequer lhe acenar um lenço de despedida. E num parêntesis, compreendo porque Marcelo já o teria despedido, é porque Marcelo já ligou, como todos os políticos de gema, o "modo eleições". Há ainda a questão de este ser um governo fanático neo-liberal. Eu, se tirarem a palavra liberal a um Governo que aumentou brutal e descomunalmente os impostos, aceito. Há um certo fanatismo, uma certa crença nos resultados que roça a fé religiosa, que pode ser aceitável nas finanças, mas é dispensável noutras áreas. Remeto para o ponto do compromisso e do diálogo, que é sempre a forma de matar a fanatismo. Acima de tudo há o desemprego. E muito embora o desemprego seja brutal, quase inimaginável, ele é sobretudo o resultado da falta de reformas do nosso país. Milhares de empregos que acabaram já não tinham há anos racionalidade económica. É um facto. Claro que a culpa não é de quem tinha esses empregos e menos ainda de quem está desempregado. A culpa é, claramente, dos sucessivos governos que em tempo de vacas gordas se recusaram, com medo de perder votos, de perder tachos e de perder benesses, a reestruturar um país que vivia (e vive ainda) muito à sombra do Estado. E, por último, há a reforma do Estado. Outra coisa que já devia estar feita há muito. Quando havia dinheiro para subsídios e reformas antecipadas. A cobardia de então paga-se hoje a dobrar. É uma regra tão velha como o mundo. E o pior é que o pesadelo vai continuar. Se ao fim de dois anos não chegámos ao despautério da Grécia, também não nos livrámos do mal que trazíamos. Ainda que o ciclo se inverta, por termos batido no fundo, ainda que a troika saia no tempo previsto, o que fica por fazer ainda é muito e doloroso. Outro Governo teria feito melhor? É bem possível. Outro Governo teria agido de forma a evitar todo o descontentamento que por aí vai? Disso é que eu duvido muito. Por: Henrique Monteiro
Posted on: Wed, 05 Jun 2013 15:41:41 +0000

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