EPITÁFIO Terra, minha terra eis que me devolvo: tua poesia, teu - TopicsExpress



          

EPITÁFIO Terra, minha terra eis que me devolvo: tua poesia, teu ovo. Devolvo-te os sorrisos escrotos meus sonhos, meus brotos minhas esperanças, meus mortos e, agora, o meu inútil corpo Devolvo-te o cheiro destes eucaliptos que acenam despedidas e boas vindas aos filhos errantes, retirantes nesta ilha latifundiária e agreste de oportunidades e sonhos delirantes Devolvo-te tuas verdes colinas o Societé, a Praça da Bandeira as rochas, insensíveis, indiferentes as Sevis, as Brandinas os servis, a falsidade, a dor de dente o dinheiro pouco para pagar a cantina teu odor, tua latrina o futuro e o presente Devolvo-te o Poço da Nega o schistosoma a Travessa da União a política coma o engenho, o mel e a ausência do pão Devolvo-te o peito, o sangue derretido, o veio o clamor, o povo sofrido o cordão umbilical, o pleito Devolvo-te teus governantes que fingem festas, festivais votos e sorrisos bacanais embora deixem deserdados os irmãos natais Devolvo-te o teu povo que abre-se fabril a outros abraços operários - cicatriz anil tecida em pele, pavio Devolvo-te minhas noites, meus açoites, o salário canavial, a hipocrisia, a água batismal, a pia, teu vazio cultural teu sangue, teu corpo tua gente, teu sal Devolvo-te os puteiros a tua falta de perspectiva, e a pátria amada sepultada pela enxada do coveiro o grito incontido o escritor, o tinteiro Devolvo-te tudo exceto tua moral Belge Bresiliene pacífica, morenense e teu involuntário abraço final - cana de açúcar teu bem, teu mal A Terra dos Eucaliptos finalmente receptiva e acolhedora abre a sua boca voraz para me receber quando não estou mais nem aí e não quero saber Hideraldo Montenegro livroshideraldomontenegro.blogspot.br/2013/07/epitafio.html
Posted on: Tue, 16 Jul 2013 13:34:19 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015