ERASMUS por Lindolfo Sancho, Letícia Falcão e Déborah - TopicsExpress



          

ERASMUS por Lindolfo Sancho, Letícia Falcão e Déborah Pereira Frente uma realidade diferente da qual nos acostumamos, é bastante comum que façamos uma qualificação extremista e enviesada por preconceitos sobre o que já conhecemos e passamos a conhecer. Desta forma, ao menos no inicio, as opiniões dos estrangeiros que chegam à Universidade do Porto oscilam entre os extremos de qualificar esta nova realidade como totalmente melhor que a vivida em seus países de origem, ou como pior em todos os aspectos. Entretanto, ao superar estes julgamentos iniciais mais simplistas, as diferenças encontradas aqui são relativizadas, e podem então apontar para diferenças no momento que nossos países vivem, creio. E por isso é importante que sejam destacadas para que possamos vislumbrar os possíveis impactos do momento presente no futuro do ensino superior público. Atualmente o ensino superior público do Brasil vem passando por uma rápida expansão com abertura de novos cursos, construção de novos campi universitários pelo país e um crescente apoio a pesquisa por meio de agências públicas de fomento. Esta expansão, entretanto, não tem sido acompanhada pelos investimentos necessários em planejamento e infra-estrutura. Por conta da falta de moradia estudantil, construções de prédios atrasadas, desenvolvimento das atividades estudantis em instalações provisórias, entre outros problemas, em muitas das universidades que vêm passando por esse processo de expansão criou-se uma rotina de greves estudantis que prolongam-se por meses. Partindo desta situação, imagina-se o impacto inicial de se chegar a uma universidade que não só possui um prédio concluído, como também parece totalmente consolidada. A Universidade do Porto, pelo menos no que diz respeito ao espaço necessário para o desenvolvimento das atividades que um curso superior demanda, aparenta ser como as universidades públicas no Brasil deveriam ser. Ou melhor, como os programas de governo desse país propagam que será. Já quanto à estrutura das aulas, à metodologia dos professores e etc. parece não haver grandes diferenças. Há professores excelentes, outros nem tanto. Os trabalhos e exames não são novidade. Quanto a parte dos estudos que compete aos estudantes, como com as leituras que devem ser empreendidas, não há diferenças significativas, talvez apenas no que diz respeito ao volume de leitura que deve ser feita por cadeira, que nos pareceu menor aqui. No Brasil, para cada aula deve-se ler um ou dois textos e os professores não cessam de cobrar essas leituras. Com alguns chegando, inclusive, a se recusar a ministrar a aula caso a maioria dos alunos não tenham lido os textos marcados para o dia. Mas são outras as diferenças que nos tem levado a estranhar de fato esta outra realidade. Fruto de conversas tidas com outros alunos portugueses, e erasmus de outros países europeus, o famigerado processo de Bolonha e seus efeitos são o grande ponto de estranhamento. É difícil, por exemplo, absorver a ideia de um curso de licenciatura a ser desenvolvido em três anos, seja em Sociologia ou Engenharia. E este estranhamento foi reforçado através de algumas conversas informais em que outros estudantes fizeram muitos comentários críticos a respeito disso. Até que numa conversa com uma estudante italiana a perguntei a respeito disso, ao que ela me respondeu não estranhar ou achar negativo um período tão curto para um curso de graduação. Sua justificativa foi de que na Itália o tempo de estudo no ensino básico já é demasiado longo (mais longo que no Brasil), e que o importante era realizar o mestrado, pois o nível de licenciatura já não é tão importante. Com este comentário, percebi que essas diferenças são um reflexo do momento que os dois países vivem, onde o acesso à licenciatura em Portugal é um bocado mais amplo que no Brasil, fazendo desta não tão importante (relativamente ao Brasil, onde tal diploma é mais raro). Mas me pergunto até que ponto este acesso é prejudicado pelo fato de os estudantes portugueses precisarem pagar uma propina anual às Universidades. Este é um outro fator que causa estranhamento. Não é concebível que um órgão público preste serviços a população e cobre por isso um valor adicional às contribuições já feitas pela por meio de impostos e outras formas de arrecadação do Estado. Como direito que é, o ensino público não só deve ser gratuito como deve haver por parte do governo meios de garantir que os estudantes tenham condições de permanecer na universidade até sua formação. Se é possível que o nível de licenciatura seja menos importante por aqui por ser algo mais acessível, e pelo curso de mestrado ser uma realidade ainda mais concreta aqui do que para um estudante no Brasil, é de se perguntar quais efeitos futuros este fator da propina pode ter no objetivo de democratizar o acesso ao ensino. Dadas às situações econômicas em que os dois países se encontram atualmente, uma comparação pode ser injusta tendo em conta que o investimento massivo em educação é uma necessidade inexorável às pretensões do Brasil de um dia mudar sua condição de subdesenvolvimento, enquanto para Portugal as fontes de investimento são cada vez mais escassas devido a sua condição atual de “refém” das políticas de austeridade vindas do FMI e do BCE. Este é certamente mais um fator que explica o enxugamento dos investimentos do governo português no ensino superior e a situação oposta encontrada no Brasil (ainda que com graves problemas de planejamento). Entretanto, também é de amplo conhecimento a importâcia de um ensino superior de qualidade para a manutenção do crescimento econômico de um país - ainda mais em países em que a maior parte da produção científica é desenvolvida em universidades, como no Brasil e em Portugal.
Posted on: Thu, 14 Nov 2013 15:22:15 +0000

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