Em Belém do Pará: Carta n. 1 do Acampamento Cleonice - TopicsExpress



          

Em Belém do Pará: Carta n. 1 do Acampamento Cleonice Vieira Nós, do Acampamento Cleonice Vieira, sentimos a necessidade de compartilhar com a população os motivos que nos levaram a ocupar a Praça da Leitura, em São Brás. É de conhecimento geral que as manifestações que estão ocorrendo pela cidade são decididas em assembleias públicas na Praça da República, no Mercado de São Brás e por conversas nas redes sociais da internet. A ideia da ocupação de um espaço público foi debatida por diferentes pessoas dentro desses canais pré-existentes, visando basicamente criar mais um espaço de discussão, desta vez presencial e permanente. No entanto, isto não foi definido nestes canais anteriormente. Foi a partir da ocupação na Câmara dos Vereadores (deliberada em assembleia geral do Movimento Belém Livre) que aproximadamente 40 manifestantes, inconformados com o golpe praticado pelos vereadores da CMB para a votação secreta do PPA e revoltados com a ação truculenta da polícia, marcharam pela Av. Almirante Barroso em direção ao Mercado de São Brás. Ao final do trajeto, cerca de 10 pessoas decidiram permanecer no local, iniciando a ocupação no exercício de sua autonomia. A partir daí, o acampamento, iniciado de forma precária e com um número reduzido de pessoas, tem se estruturado como uma zona autônoma e horizontal, onde o espaço público se reformula e dinamiza. Realizamos diariamente discussões políticas, em atividades como aulas públicas, assembleias, oficinas, grupos de trabalho e programações culturais. Neste sentido, entendemos a ocupação como mais um canal de construção do Movimento Belém Livre, e não como um grupo de pessoas que objetivam se desligar ou desarticular os atos, como vem sendo disseminado. A pauta de transporte – que engloba redução da tarifa para R$ 2,00 e congelamento desta por dois anos, passe livre para estudantes e desempregados, efetivação da lei do passe livre aos domingos e aceleração da construção do BRT – também necessita de aprofundamentos, que podem ser discutidos neste espaço, como a integração dos terminais da Região Metropolitana de Belém, o melhor aproveitamento do transporte fluvial, etc. As reivindicações da população são inúmeras. Educação, saúde, segurança e cumprimento da lei de destinação dos resíduos sólidos no município somam-se a pautas estaduais e nacionais como democratização dos meios de comunicação, reforma agrária e urbana, desmilitarização da polícia, financiamento público e igualitário das campanhas políticas, redução dos benefícios dos políticos, além de inclusão mais efetiva das pautas amazônicas referentes a exploração, expropriação e violência praticadas pelos grandes projetos de desenvolvimento, que mantêm um processo colonizatório iniciado a 513 anos. Reiteramos a urgência da inclusão de questões referentes a agronegócio, hidrelétricas, desmatamento, mineração, garimpo e respeito aos povos tradicionais amazônicos como pautas nacionais de extrema importância. Acreditamos na socialização de todas essas pautas através de debates abertos e na difusão da informação através de mídias livres e alternativas. Temos uma postura bem definida com relação aos grandes meios de comunicação locais, dominados por dois grandes grupos nitidamente atrelados aos interesses do capital. Não daremos entrevistas a estes veículos, porém nenhum jornalista ou fotógrafo será desrespeitado. Antes de tudo, estes profissionais são indivíduos e, como tais, estão convidados a vivenciar as atividades do acampamento. Nós somos a mídia! Neste espaço, experimentamos metodologias em busca de horizontalidade e consenso, para que as decisões não sejam impostas, mas construídas coletivamente e, por isso, respeitadas. Antes de se definir o uso de jogral, microfone, sinais silenciosos, etc, é necessário bom senso, respeito e entrega para ouvir o outro. É necessário saber como agir não apenas no enfrentamento físico do poder que nos oprime, mas principalmente no combate ideológico. Para construirmos estratégias mais fortes, necessitamos criar confiança de grupo, nos colocando além do meio virtual e indo para a praça para dialogar com os passantes, criando esse ponto de informação fora da rede, já que apenas 7% da população do Pará tem acesso à internet. A inclusão digital é uma realidade muito distante daqui. Escolhemos esta praça em reverência à luta dos movimentos sociais na Amazônia, aos pés do Monumento da Infâmia, referência à chacina cometida pelo Estado contra o Movimento Sem Terra na curva do S, em Eldorado dos Carajás. A escolha também é justificada pelo grande fluxo de pessoas, localização estratégica à difusão do conhecimento construído no acampamento. Acampamento Cleonice Vieira! Homenageamos a trabalhadora morta no segundo dia de manifestação do Movimento Belém Livre, vítima da violência que nos oprime cotidianamente. Cleonice estava trabalhando como gari durante a manifestação do dia 20 de junho em frente a Prefeitura de Belém e não resistiu ao ser atingida por uma bomba de gás lacrimogênio, lançada num ato irresponsável da Guarda Municipal. Ao contrário do que alegam os governantes e a grande mídia, a gari não havia sido liberada como os outros funcionários da prefeitura. Cleonice é símbolo de nossa luta e como tal não será esquecida. Exigimos a responsabilização penal dos governantes culpados. Cleonice Vieira, presente! Belém, 6 de julho de 2013.
Posted on: Sun, 07 Jul 2013 16:35:06 +0000

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