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Em primeiro lugar, é preciso que haja uma revisão urgente da gramática normativa, para modernizá-la (adequá-la ao efetivo uso culto atual e incorporar à norma as mudanças que o idioma sofreu), bem como racionalizá-la – dar tanto quanto possível soluções de bom senso às irregularidades e incoerências da gramática que os falantes já eliminam na prática. Em segundo lugar, a elaboração de uma gramática normativa não deveria ficar a cargo de meros professores de português, como é hoje a maioria dos gramáticos, mas de cientistas da linguagem (que são também professores). Afinal, um professor puro e simples, por mais experiente que seja, é sempre um reprodutor e não um produtor de conhecimento. Para tanto, uma possível solução seria criar, por meio de lei, uma comissão formada de pesquisadores com titulação mínima de doutor e produção acadêmica relevante, a serem eleitos por seus pares – para evitar ingerências políticas –, encarregados de elaborar uma nova gramática normativa, que contemple a realidade da nossa língua culta atual. Essa comissão teria de ser permanente (já que a língua não é estática e as gramáticas não são perfeitas, necessitando ser revistas e aperfeiçoadas à medida que novos impasses ocorram), mas com a renovação periódica obrigatória de seus membros. Sua função seria editar a gramática normativa oficial do Brasil, na qual as demais teriam de basear-se para serem adotadas nas escolas. Para que essa gramática não se torne uma camisa de força, nem tal comissão seja acusada de autoritarismo, todos os cidadãos, gramáticos ou não, professores ou leigos, teriam direito de propor sugestões. Mas caberia ao corpo técnico da comissão, à luz da linguística, estabelecer as regras oficiais. Por ter caráter regulatório, a gramática oficial não tocaria em questões estilísticas, como fazem hoje em dia muitas gramáticas, a um só tempo obras de descrição da língua e manuais de estilo. Por restringir-se ao que é funcional, essa gramática seria inclusiva e não excludente. Uma pergunta que poderia ser feita é: por que não delegar a tarefa à Academia Brasileira de Letras? A razão é simples: com todo o respeito à ABL, os “imortais”, em sua maioria, não são cientistas da linguagem, sendo muitos deles mais propriamente usuários do que estudiosos da língua – ainda que usuários cultos e talentosos. Aliás, a posição conservadora da Academia ante a polêmica suscitada mês passado pelo livro didático que legitima o uso da norma popular em situações informais é um exemplo do despreparo de muitos acadêmicos em lidar com questões linguístico-pedagógicas. Nada impede, porém, que membros da ABL que sejam pesquisadores da língua com significativa produção científica integrem tal comissão. Afinal, assim como há comissões técnico-científicas encarregadas de normatizar as mais diversas atividades sociais e profissionais, por que o padrão formal do idioma deveria estar a cargo de pessoas com mentalidade pré-científica que se autoinstituem no papel de legisladores da língua e, por vezes, limitam-se a impor aos falantes suas idiossincrasias? (Aldo Bizzocchi) Extraído do aldobizzocchi.br/artigo104.asp
Posted on: Sat, 14 Sep 2013 17:30:00 +0000

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