Já dizia a sabedoria popular: se quiser medir o nível de - TopicsExpress



          

Já dizia a sabedoria popular: se quiser medir o nível de educação de uma pessoa, repare na maneira como ela trata o faxineiro. Generalidades à parte – porque sempre há o porteiro mal-humorado que quase bate no morador caso ele lhe diga um singelo “bom dia” – essa é uma triste e recorrente verdade. Estudar nos melhores colégios da cidade não é garantia de nada – nem de que a pessoa vá saber resolver uma equação de primeiro grau. Abrir a porta do carro para que a moça entre também não é – afinal, se você quer transar com ela, os manuais dizem que fingir cordialidade é um bom caminho. Mas e quando o alvo da sua educação é alguém que, conforme sua mente mesquinha, não conseguirá lhe trazer nada em troca? Posso – e espero – estar enganada, mas parece que a frieza e a dureza do concreto cinzento que mantém erguidas as grandes cidades também se apossaram dos nossos corações. Se a vida é muito curta para remover o pen drive com segurança, quem dirá para dar um segundo de atenção ao menino faz malabarismo no farol. Para desejar uma boa tarde à servente que trabalha no seu escritório. Para agradecer ao gari que recolhe diariamente a sujeira que você joga no chão. E é aí que nasce o fenômeno da invisibilidade social – seja por indiferença ou por preconceito, meu iPhone 4s é sempre muito mais interessante do que o discurso do vendedor de balas que entra todo santo dia para atrapalhar o meu trajeto do trabalho para casa. Ler as fofocas do dia para saber com quem a Gretchen se casou pela trigésima quinta vez é mais importante do que tentar entender a história da faxineira que limpa minha mesa de trabalho diariamente. Decorar o quartinho do meu cachorro é mais conveniente do que perguntar se a diarista, que chegou para limpar a merda dele espalhada pela casa, está bem. Se você tem alguma vivência, por menor que seja, já deve ter ouvido falar naquela história de que amar o bonito e ser amigo de quem está feliz é fácil. Por isso é que não raro amamos mais a Lindsay Lohan e suas internações compulsórias do que o menino que educadamente pede esmolas no farol e sorri, apesar de viver em uma condição sub-humana. Lindsay Lohan é loira, é bonita, é famosa, tem dinheiro. O moleque é preto, é pobre, é indigente, largou a escola para ajudar no sustento do barraco onde vive. E escancara para nós uma realidade que não queremos enxergar: a de que somos privilegiados. Seja por termos acesso à água potável, por termos comida na geladeira, por termos um teto para morar, por termos uma cama para dormir, por termos o direito de escolher uma profissão ou por termos condições de ler esse texto até o final. E ser o privilegiado implica em algumas responsabilidades que a maioria de nós não está a fim de assumir. Não tem tempo. Não tem saco. Não tem condições financeiras. Lembra que na escola ninguém gostava de ser o preferidinho da professora, pra não ter que ser o único responsável pela folha de exercícios que os demais alunos iriam xerocar? Pois é. Abdicamos do título de privilegiados porque não queremos ser os propulsores de uma real mudança social – já que somos os únicos com condições de trabalhar para isso. É bom estar no topo sem pensar em quem está na base. É bom comprar o tênis da moda sem pensar nas condições de trabalho de quem o produziu. É bom guardar todo o seu carinho pra gastar no motel com aquele ficante esporádico. Vai que dá certo e evolui pra um namoro, né? Um first world problem resolvido e uma pessoa a menos para lançar energia negativa no universo. E antes que vocês me perguntem o que eu faço por um mundo melhor, eu já adianto que é muito menos do que eu poderia – afinal, não sou santa, nem mártir, nem Madre Teresa. Mas o que eu já abracei de mendigo por aí, meu amigo, não tá escrito…
Posted on: Wed, 04 Sep 2013 20:05:52 +0000

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