Mara, defendo a causa democrática. Te envio um texto que produzi - TopicsExpress



          

Mara, defendo a causa democrática. Te envio um texto que produzi frente à perplexidade de uma paciente sobre a minha demissão. Essa é uma questão de cidadania: acender a luz da democracia em cada canto obscuro. Objetivamente quero fundar uma instituição nos moldes democráticos, para reabilitação de membros superiores em tetraplégicos e lesados cerebrais: Brazilian Tetrahand Trust. Peço muito a sua ajuda. Não entendo nada sobre como se cria uma instituição dessas ou tenho qualquer ajuda política. Precisamos de ajuda e motivação é o amor pela causa humana. Segue o texto: Estimada, Neusa, com extensão aos estimados pacientes e colegas e estimado povo brasileiro, A sua perplexidade diante da minha demissão é também de muitos ex-colegas do Sarah e de muitos pacientes a quem tive a alegria de poder ajudar em algo. Ficamos privados eu de trabalhar nessa magnífica instituição, erigida por Dr. Aloysio Campos da Paz Júnior, médico e homem brilhante, a quem teço todo o meu respeito e admiração; e as pessoas, como você, que querem a minha atenção profissional. Lamento muito o fato de minha demissão, mas sigo em frente na minha inarredável intenção, desejo, ação e causa de exercer a medicina, particularmente voltada aos pacientes que, num contexto de reabilitação, necessitem, e sobretudo desejem, as intervenções cirúrgicas na especialidade que exerço, qual seja, cirurgia plástica, afim de agregar-lhes capacidade funcional, que desejem, e qualidade de vida. Particularmente num capítulo da cirurgia plástica, que é o da cirurgia da mão e membros superiores, pude, creio, contribuir em grande medida ao trazer à tona, e à efeito, técnicas cirúrgicas para contribuir na reabilitação funcional de membros superiores (braços e mãos) de pessoas que sofreram lesōes da medula, coluna, lesões neurológicas e cerebrais. E foi por isso que frequentei congressos, cursos e visitei serviços mundo afora, sempre com o estímulo e anuência do Sarah, que mesmo contribuiu financeiramente, em menor, mas não menos importante parte, para que eu pudesse trazer e compartilhar com os colegas o "estado da arte" das técnicas da cirurgia plástica e de reabilitação de membros superiores; o que vem de encontro a um dos preceitos e funções do Sarah, por mim admirados, que é de produzir e difundir conhecimentos na área de saúde, contribuindo assim com a melhoria da qualidade de atenção à saúde do povo brasileiro. E foi com determinação e alegria, sem titubeio que investi certa quantia de dinheiro, de tempo, de esforço físico e intelectual, frequentando congressos, cursos e visitando serviços médicos dedicados à reabilitação de membros superiores, no Brasil, França, Suécia, Suíça, Nova Zelândia, Hong Kong e China, com fé e confiança, inclusive de meus filhos menores (Vitória e André), familiares, colegas, amigos e pacientes dos quais privei ou privo atenção. Contei com o incentivo e compreensão dos pacientes que atendi, quando se dispuseram a esperar por oportunidade de uma consulta ou cirurgia comigo, algumas vezes postergadas pelo fato de viagens à busca de melhor conhecimento médico técnico e também melhor preparo humano, este por investimentos no campo da psicanálise, para que pudesse melhor atender às necessidades dos pacientes, ao poder ouví-los, preparado pela própria análise, nos seus anseios e em suas dores mais íntimas que não podem ser captados por raios X e nem testes ou exames, mas sim por uma escuta apurada daquele que nos procura em clamor de cura ou alívio de sofrimento. Devo ainda dizer que ao me aproximar, de forma humana, dos pacientes e colegas, fragilizo-me e me exponho à minha própria natureza humana, com natural sorriso e contentamento, mas também: tristeza, dor angústia medo, cansaço e incapacidades. Aos colegas e pacientes que possam ter em algum momento sofrido com ou por minha humanidade indisfarçável, as minhas sinceras desculpas e meu afetuoso abraço. Tenho ainda a pretenciosa mas pura certeza de que essas pessoas experimentaram ou experimentariam o prazer e bons frutos de nosso encontro, porque é pra isso que estou nessa vida: para semear o bem que cada um tem. Ressalto a inequívoca função benéfica dos grupos de psicologia e psiquiatria no confortar os pacientes, ao mesmo tempo enfatizando a necessidade de preparo do próprio médico, figura quase mítica para os pacientes. E ao tratar esse olhar mítico do paciente sobre seu próprio corpo, sobre sua doença e sobre o médico, abrimos a possibilidade de escolhas mais claras e portanto melhores, de tratamento e de ações de promoção da saúde, inerentes à relação médico-paciente-instituição, que, no caso do Sarah, muitas vezes representa a última esperança para um bom tratamento para quem o procura, como paciente, ou para quem o pleiteia, por concurso público federal, como profissional militante na área de saúde. Essa esperança espelha a alta qualidade de atendimento e recursos de trabalho a que o Sarah se propõe de forma clara e transparente, evidenciadas por ações e discursos, mais ou menos congruentes, mais ou menos felizes e mais ou menos justos na medida relativa ao nosso motivo de existir: o paciente com seu diagnóstico preciso e acesso ao mais efetivo e desejado tratamento. É certo que esta precípua do Sarah, como uma instituição que cultiva a mais elevada ética, de transportar efetivamente o que há de melhor em atenção à saúde, no mundo, para o povo brasileiro, ao seu cotidiano, não alcança a sempre almejada plenitude. Seja por limitações financeiras ou atos humanos, o Sarah é, por vezes, de alguma forma e por alguma razão, tangido pela fina lâmina, inominada, da injustiça, pavor cada vez mais refutado por todos nós, brasileiros. Sofremos todos: pacientes, funcionários e dirigentes; enfim, brasileiros, e porque não dizer, a população mundial, ao sermos privados, seja de tratamentos específicos, escolha de profissionais a quem, confiantes, nos entregaríamos; seja de conhecimento ou produção e difusão desses. Refiro-me, é claro ao que possa ir além da incrível produção e difusão científica, e de provisão de atenção à saúde, reconhecidas nacional e internacionalmente, assim como o sabemos pelos meios de comunicação intra e inter-institucionais. E o que pode ir além é exatamente a contribuição peculiar de cada um, que, para efeito, deve ser ungida por um olhar democrático, sempre defendido e defensável. Afinal, ninguém é substituível ao ser considerado ser humano. Perdoem, mas aproveitem, a extensa "fala". Obrigado por me "ouvirem". Um abraço, Estevão Plentz PS: Mara, vejo uma foto em que você escreve com o lápis na boca. Nada contra esse jeito, se este é de sua escolha. Mas quero te informar que há várias possibilidades para que escreva empunhando o lápis, manipule objetos e tenha um jeito de fazer as coisas cotidianas com menor dispêndio de energia e, talvez, se te apetecer, com mais satisfação. É essa a idéia: primeiro. Informar aos pacientes que não precisam se contorcer tanto para viver e, que se quiserem, podem usufruir de atenção médica específica, disponível no mundo há 70 anos, e incrivelmente negligenciadas no Brasil, até hoje. Precisamos introduzir aqui, por informação aos pacientes, para que esses exerçam o livre arbítrio do que querem sobre seu corpo. Isso é democracia!
Posted on: Tue, 02 Jul 2013 04:17:21 +0000

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