(Nenê Altro) Sou assim, viciado em vícios. Um gosto bizarro e - TopicsExpress



          

(Nenê Altro) Sou assim, viciado em vícios. Um gosto bizarro e incontrolável por maus hábitos. Gosto de enlouquecer as vezes, seja sóbrio ou bêbado. Pareço uma chaleira fervendo o tempo todo que por vezes precisa apitar pro mundo baixar o fogo por algum tempo. Mas que sempre volta a ficar quente. Quente pra porra... Não consigo evitar, é a maneira que mais amo de viver minha vida. E não consigo deixar de olhar para as vidas chatas de pessoas mediocres, certinhas, que tentam o tempo todo não surtar pra serem aceitas. No meu bairro, no metrô, nas ruas, na televisão, até mesmo nas baladas onde vão sei lá porque, sentam num canto na hora que chegam e só levantam os rabos na hora de irem embora... No meu mapa de existência mundial elas estão marcadas com a cor cinza e representam as áreas idiotas e nada divertidas. E isso não tem a ver com ser bem louco, com encher a lata e tudo mais. Tenho amigos que nem cerveja tomam e que piram mais que qualquer alcoólatra que conheço. Tem a ver com o jeito que a gente encara a vida saca? Fico pensando que essas pessoas chatas devem trepar só de luz apagada pra não olharem umas nos olhos das outras e apenas pela necessidade de cagar mais chatinhos no mundo pra cuidar de toda grana que enfiaram a vida toda no rabo de algum banqueiro chato e não tiveram a oportunidade de gastar aos 80 e poucos anos de idade. A maioria delas tem filhos “geminha mole” sabe? Aqueles que moram na casa dos pais a vida toda e que aos 40 anos gritam do quarto pra mãe na cozinha “mãe faz o meu ovo com geminha mole por favor?”... Aí conhecem alguma decadente morfética qualquer no bingo da igreja, casam e levam também pra morar com os pais. E tem sempre uma pobre velhinha viciada em remédios e em limpeza que fica pensando onde que errou na vida pra ter gerado um hipopótamo míope e sem pernas e não uma pessoa que pelo menos vai até a padaria sozinha... E se a gente pergunta porque não vão viver suas porras de vidas respondem que não são bobos, que podem só ficar ali e esperar os velhos morrerem pra ficarem com a casa. O Ipiranga é cheio desses porras. É só olhar nos mercados, tem sempre um quarentão fazendo compras com alguma velhinha perdida... Bom, mas fodam-se eles. O fato é que eu seria um suicida em potencial se acordasse e me visse preso nas áreas cinzas do planeta. Tá que eu não sou tudo o que queria ser, mas pelo menos não sou o que não queria. Já está melhor, ao meu ponto de vista. Sempre que sinto a chaleira ferver dou uns gritos, arranco a roupa, mostro o pinto, faço qualquer porra dessas e o vapor volta um pouco pra dentro. Por um tempo, é claro. Bom, já disse que sou uma criatura estranha né... No mínimo isso. Mas prefiro assim. Incomodo meus amigos a noite. Todos percebem quando estou com telefone em casa... Mas a escolha é deles. Geralmente minha fama chega antes de mim e todo mundo já sabe o que significa conviver comigo. Na verdade ninguém aguenta muito tempo... Mas já estou acostumado. Alguns sempre voltam. Alguns voltam, ficam uns cinco minutos, lembram e estampam na cara uma vontade absurda de sair correndo gritando. Mas sempre tem um ou outro. E tem as meninas. Eu tenho a minha menina, que acorda do meu lado, aprendeu a sobreviver a meus surtos e que deve ser um pouco mais maluca que eu pra estar comigo a tanto tempo. Tem as outras que colam, tiram uma casquinha da gente, aguentam um tempo e saem fora. As vezes bebem demais, as vezes não, as vezes ajudam a limpar a zona que fazem, as vezes não, mas vira e mexe estão por lá. Aí eu acordo as três da manhã, acendo a churrasqueira no quintal, abro uma cerveja e fico sentado escrevendo qualquer coisa esperando amanhecer. Ela levanta, senta um pouco do meu lado, dá um gole da minha cerveja, um beijo no rosto, diz que me ama e volta a dormir... É, eu não devo ser tão ruim assim...
Posted on: Tue, 13 Aug 2013 04:26:12 +0000

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