O CARRO DE LOMBA OU ROLIMÃ José Adão Figueiredo dos Santos (1) - TopicsExpress



          

O CARRO DE LOMBA OU ROLIMÃ José Adão Figueiredo dos Santos (1) A topografia irregular das ruas de Lavras do Sul e também o pouco movimento de transeuntes permitiam que utilizássemos as calçadas para andar de carro de lomba. Para quem não conhece, trata-se de um carro composto de três ripas de madeira, sendo duas paralelas, em cuja extremidade são colocadas as rodas de rolete, que também podem ser de madeiras, e uma ripa longitudinal, que se liga às duas paralelas e sobre a qual, numa das extremidades, considerada a parte traseira, é então colocado o assento. É realmente um brinquedo gostoso, de feitura fácil e econômica. A parte traseira, onde se situa o assento, é fixa, para dar maior segurança ao piloto. A dianteira, porém, permanece com flexibilidade, justamente para que, com os pés, se possa direcionar o carrinho, já que não tem guidon. Como trava pode-se utilizar um pedaço de madeira que, fixado ao eixo principal/longitudinal, permite, quando puxado, frear o carro. Esse método de freio é pouco duradouro e a trava deve ser constantemente trocada, para que não se tenha que frear o carrinho com os tênis, o que danificará a sola e, com certeza, motivará o descontentamento daqueles que têm que trabalhar para comprá-los. A bem da verdade, na minha terra não conhecíamos tal brinquedo pelo nome de carro de lomba, nem carro de rolimã, como conhecido em Porto Alegre, e sim por carro de descida. Eram maneiras diferentes de expressar a mesma coisa. Essa diversidade de expressão, muitas vezes, causava-nos alguns constrangimentos. Certa feita, um guri da capital do Estado fora passar as férias em Lavras do Sul, na casa de alguns parentes. Fez amizade conosco e começou a participar das nossas brincadeiras. Ao se referir ao carro de descida, como costumávamos chamá-lo, fazia-o de maneira estranha para nós. Além de trocar a palavra “descida” por “lomba”, dava uma entonação diferente na voz, de forma que o “de” era trocada por “di” e saía, então, a expressão “carro di lomba”, o que para nós, fronteiriços, soava com um certo grau de exibicionismo. No início, dada a consideração que tínhamos por forasteiros, apenas o repreendemos pela pronúncia indevida da preposição “de”, uma vez que a troca da palavra “descida” por “lomba” era apenas uma questão de sinonímia. Como insistisse no uso inadequado, fomos obrigados a lhe dizer que, se quisesse continuar brincando conosco, deveria aprender a nossa linguagem, o que de fato tentou com muito esforço, conseguindo às vezes. Depois de algum tempo é que descobrimos que os demais moradores da capital também possuíam o mesmo vício de linguagem do guri. 1. Escritor, Advogado e Procurador do Município de Porto Alegre
Posted on: Sat, 29 Jun 2013 18:19:38 +0000

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