O EQUÍVOCO DE JUDAS [...] Está escrito que o discípulo não - TopicsExpress



          

O EQUÍVOCO DE JUDAS [...] Está escrito que o discípulo não poderá ser maior do que o mestre. Aqui mesmo, em Jerusalém, vimos Judas cair numa cilada igual a esta. Nos dias angustiosos do Calvário, em que o Senhor provou a excelência e a divindade do seu amor e, nós, o amargo testemunho da exígua fé, condenamos o infortunado companheiro. Alguns irmãos nossos mantêm, até o presente, a opinião dos primeiros dias; mas, em contato com a realidade do mundo, cheguei à conclusão de que Judas foi mais infeliz que perverso. Ele não acreditava na validade das obras sem dinheiro, não aceitava outro poder que não fosse o dos príncipes do mundo. Estava sempre inquieto pelo triunfo imediato das ideias do Cristo. Muitas vezes, vimo-lo altercar, impaciente, pela construção do Reino de Jesus, adstrito aos princípios políticos do mundo. O Mestre sorria e fingia não entender as insinuações, como quem estava senhor do seu divino programa. Judas, antes do apostolado, era negociante. Estava habituado a vender a mercadoria e receber o pagamento imediato. Julgo, nas meditações de agora, que ele não pôde compreender o Evangelho de outra forma, ignorando que Deus é um credor cheio de misericórdia, que espera generosamente a todos nós, que não passamos de míseros devedores. Talvez amasse profundamente o Messias, contudo, a inquietação fê-lo perder a oportunidade sagrada. Tão só pelo desejo de apressar a vitória, engendrou a tragédia da cruz, com a sua falta de vigilância. (1) – Simão Pedro. O leitor atento percebeu que o Espírito Emmanuel se utilizou do adjetivo adstrito, ao relatar a fala de Pedro quanto às altercações e às impaciências de Judas. Então, ao que parece, o infelicitado discípulo, apesar de muito amar o Messias, só conseguia agir, no apostolado, de modo adstrito, ou seja: ligado, incorporado, dependente, um servo; obrigado, sujeito, submetido; fechado... Em função dos princípios políticos do mundo. Uma cilada como esta, torna-se, então, muito perigosa, uma vez que a identificação ou o apego do cristão às coisas do mundo, ainda que pelo triunfo imediato das ideias do Cristo, fez o discípulo perder-se pela inquietação, no âmbito das oportunidades sagradas de poder ser útil na seara do Cristo. A questão está no fato decorrente desse modo incauto de agir, por desencadear contingências perigosas para todos, pois, conforme Pedro, “tão só pelo desejo de apressar a vitória [Judas] engendrou a tragédia da cruz, com sua falta de vigilância”. E quanto a nós, espíritas atuantes no Movimento Espírita? O que temos a ver com esse princípio fatal? O que seria, para nós, a delicada questão citada por Simão Pedro em referência ao equívoco de Judas? Até que ponto, sem nos darmos conta, estaremos trabalhando com dedicação ao Movimento Espírita, porém assujeitados, submetidos, fechados ou dependentes de princípios políticos e econômicos do mundo? Creio que estas reflexões precisam ser discutidas entre nós, pois considero que, em termos de Movimento Espírita, todos sofrem quando algo afeta uma parcela viva de nosso serviço, uma vez que não há como imaginar um espírita consciente movimentar-se na divulgação doutrinária ao modo solipsista. É que estamos – e precisamos estar – o tempo todo, em rede, pois afetamos e somos afetados constantemente pelo meio. É por esta razão que existe o espírito da Unificação no Espiritismo vívido: há também uma Espiritualidade maior, bússola regente dessa teia significativa do Bem, laborando ativamente para a consecução da Terceira Revelação da Lei de Deus no mundo, entre os homens. Isso, no entanto, não quer dizer que estejamos destituídos das responsabilidades que nos cabem, na divulgação do Espiritismo, em bases seguras. Pois a obra é maior do que o obreiro e, por isso, nada nos autoriza a fazer do Movimento Espírita meio de exaltação do caráter pessoal. Ocorrendo isso, faz-se um desserviço à Causa do Espiritismo no mundo, pois, para que os Espíritos encarnados possam demandar aberturas espirituais mínimas, na busca progressiva de concreção da inevitável Regeneração na Terra, torna-se indispensável, primeiramente, que os espíritas, ou seja, os que estão orientados pelas obras básicas do Espiritismo, consigam vivê-lo na própria existência, constituindo-se, ao mesmo tempo, em seus lídimos representantes. Claro está que essa representação não pode ser como a que existe no mundo dos negócios, qual ocorreu no equívoco de Judas; nem pode estar estribada em conceitos copiados das castas sociais, das academias eruditas, dos modismos ou dos que estão na evidência da fama ou da política vigente. Se, no entanto, isto ocorrer, há que se preservar as casas espíritas – células vivas da divulgação e da vivência legítimas do Espiritismo – evitando-se que obras equivocadas sejam adotadas e realizando-se estudos firmes e continuados nas obras básicas de Kardec e nas subsidiárias de respeito. Mas, se o joio eventualmente crescer junto com o trigo e se mostrar visível, tornar-se-á necessário neutralizá-lo com sabedoria para que o bom grão não se perca. Por esta razão, nunca é demais examinar-se as raízes doutrinárias dos que se lançam no mundo editorial, antes de se adquirir seus produtos. Simão Pedro desvelou para Saulo as raízes do equívoco de Judas: “Judas, antes do apostolado, era negociante. Estava habituado a vender a mercadoria e receber o pagamento imediato”. Por isso, ele não escapou de tentar transformar o Movimento do Cristo em meio. O Codificador, na Revista Espírita, também alerta quanto a este perigo. Ele informou que aconteceram [...] os abusos, as excentricidades, as exibições, as explorações, o charlatanismo sob todos os aspectos, as práticas absurdas [...] que o Espiritismo sério jamais tomou a defesa, mas que tem, ao contrário, sempre desautorizado. [...] Quanto à Doutrina propriamente dita, é de notar que quase sempre ficou fora de debate, embora seja a parte principal, a alma da causa. [...] Desde o início o Espiritismo pareceu a certos pobretões, uma fecunda mina a explorar por sua novidade; alguns, menos tocados pela pureza de sua moral do que pelas chances que aí entreviam, puseram-se sob a égide de seu nome, com a esperança de fazer dele um meio. São os que podem ser chamados de espíritas de circunstância. (2) Os fatos históricos demonstraram-nos que Judas equivocou-se e vendeu Jesus. Kardec informou-nos que, à sua época, existiram os espíritas de circunstância (oportunistas). Pergunto ao leitor: Que espíritas de circunstância, na atualidade, desejariam transformar o Movimento Espírita em meio? O que, nisto que Kardec nos alerta, seria importante ser analisado, no âmbito de nossas casas espíritas? REFORMADOR FEVEREIRO 2012 1-XAVIER, Francisco C. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 4. ed. esp. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. P. 2, cap. 3, p. 316-317. 2-KARDEC, Allan. O poder do ridículo. In: Revista espírita: jornal de estudos psicológicos, ano 12, p. 68-69, fev. 1869. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009.
Posted on: Fri, 09 Aug 2013 02:42:54 +0000

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