O Homem, o Chapéu, Niterói e... Franz - TopicsExpress



          

O Homem, o Chapéu, Niterói e... Franz Kafka não era brasileiro, mas, decerto, ele deve ter feito muitos adeptos país afora. E, como aqui, na terra de Banda de Além, pouco se faz e muito se fala, e o povo paga, e também muito se cala, não é de se admirar muito a realidade nua, crua e patética de quem traz na carne, o ferro em marca; na alma, o sonho contido; no peito, a angústia do nada; nos modos, o cordeiro acuado; e, no riso, o que tem muito a chorar por uma cidade que paulatinamente se degrada em meio ao caos que se espraia cada vez mais vertiginoso e perene aos nossos olhos de cidadãos incrédulos, inseguros e incautos frente ao abandono inconteste. Povo tem sido uma palavra gasta, cansativa e quiçá, até redundante... É uma palavra que está sempre em primeiro plano, porém, em último quando se trata de direitos... Num regime democrático, como todo o poder emana do povo, é lícito e cabal ao povo a sua participação “ativa” e contumaz em todo o desenrolar do processo político que ele mesmo ajudou a se constituir, assim bem como o sentimento de manifestação, de rejeição, de cobrança e exigência quanto à lisura dos mandatários no exercício de suas funções à frente dos desígnios da nação, porventura, não venham a ser um simples produto da omissão, do acomodamento, da apatia e da deterioração da própria autoestima. Entretanto, as coisas absurdas ocorridas, ultimamente, também na nossa tão “olvidada Niterói”, são dignas de comiseração no que tange à postura do povo explicitamente execrado, e inexplicavelmente, meio que taciturno. Tem hora que eu me pergunto se todos nós, “cidadãos brasileiros”, não estaríamos padecendo de algum mal patológico, ou os muitos políticos já há muito desacreditados nas esferas municipal, estadual e federal. É, creio que exagero à parte(?), pelo menos não há “sofismas” que contradigam as circunstâncias caóticas presentes. Ou há? Bem, como muita coisa no “Brazil trôpego” tem o seu lado de conto de Trancoso e perplexidade, a verdade é que um absurdo a mais e outro a menos não vai molestar a Kafka em seu túmulo – assim creio. Em seu livro O homem que confundiu sua mulher com um chapéu (não é um conto de ficção), e que muito me chamou a atenção, o Dr. Oliver Sacks, professor de Neurologia Clínica no Albert Einstein College of Medicine, em Nova York, diz: o paciente, após terminada uma etapa dos exames, achando ter se saído bem, resolveu se levantar e começou a procurar o chapéu. Com uma das mãos, pegou a cabeça de sua mulher e tentou levantá-la. Aparentemente, havia confundido a mulher com um chapéu. Ela agiu como se estivesse acostumada a tais enganos. Diz ainda o Dr. Sacks que em termos de neurologia convencional (ou neuropsicologia), ele não podia entender o que tinha acontecido. Em certos aspectos, seu estado parecia perfeito e, em outros, completa e incompreensivelmente arruinado. Como podia ele, por um lado, confundir sua mulher com um chapéu e, por outro, trabalhar, conforme aparentemente fazia, como professor na Escola de Música? Durante um tempo, em meio ao tratamento, Dr. Sacks acrescentou que ele, o paciente, havia saído mesmo do realismo para o abstrato, para o não representativo, mas isso não demonstrava o desenvolvimento do artista e sim o da patologia – progredindo para uma profunda agnosia visual em que toda a capacidade de representação e imaginação, todo o sentido do concreto e da realidade estava sendo destruído. O que tem a ver um caso neurológico com a nação tupiniquim sempre ávida por um crescimento econômico sustentável e perene, com a gente niteroiense ansiosa de soluções plausíveis para os seus problemas de caos vivido diuturnamente, com a safra de políticos atuantes Brasil afora, com o neoliberalismo brasiliano sistêmico, pragmático e quiçá mambembe praticado no dia-a-dia nosso, com o homem que conduz o estado urgentíssimo de carência sócio-econômico e político de Niterói? Bem, na verdade nem eu mesmo sei. Talvez, quem sabe o próprio Dr. Sacks, ou Kafka, se vivo o fosse, pudessem responder? Hoje, o “Brazil neoliberalizado”, assim como Niterói, a cidade do Rio de Janeiro e alhures, estão tão estropiados e tão absurdos que, pode ser que alguém esteja misturando alhos com bugalhos ou, senão, confundindo sua mulher com um chapéu. Osman Osmarino Cidade de Niterói21h:35mterça-feira17defevereirode2009. Texto postadoem18defevereirode20094ª feira1h:02mOGlobo.bairros
Posted on: Fri, 19 Jul 2013 13:25:58 +0000

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