Passou-se, ontem, no Porto... a solidariedade é bonita sim - TopicsExpress



          

Passou-se, ontem, no Porto... a solidariedade é bonita sim senhor... o resto, é mesmo aquela nódoa instituída que cavalga a onda de uma suposta "defesa" dos seus representantes... ora leiam: "Solidariedade-In, CGTP-Out Foi um final de tarde com muitos sabores. O mais forte e vibrante, o da solidariedade. Não julgava possível que uma situação concreta e, diga-se, pequena pudesse, em tão pouco tempo, mobilizar tanta gente. E era mesmo muita. Não foi um 12 de março ou coisa parecida, claro. Não havia multidões. Havia dezenas. Dezenas de pessoas que decidiram responder a uma convocatória que apelava à invasão e ao bloqueio do Minipreço, que exerceu represálias sobre 4 trabalhadores que fizeram greve no dia da Greve Geral. Uma convocatória sem assinatura e sem um discurso que permitisse identificar exactamente de onde vinha. Pessoas que sabiam que os trabalhadores que ali estavam em causa podiam ser outros, talvez elas próprias. Muitos sabores. O picante paladar da força. Ali estava muita gente empenhada em levar a bom termo a ideia de bloquear a loja. A polícia tentou que as reclamações fossem todas feitas numa das caixas, de forma a desimpedir as outras para que o comércio pudesse recomeçar com normalidade. Os presentes, vários em cada uma das três caixas, afirmaram o seu direito a manter-se onde estavam. Não seriam as pessoas a ter que se deslocar, teria que ser o livro de reclamações. E assim foi. A um agente mais afoito, que pretendia que estava ali para manter a ordem, foi-lhe explicado que ele existe para fazer cumprir a lei e que esta é que tem que se preocupar com a ordem. Às vezes é bom desfazer os equívocos. E o doce sabor da vitória. Várias pessoas desistiram de entrar, ao ver a confusão cá fora. Outras acabaram por deixar carros de compras cheios dentro do supermercado ao repararem que, se quisessem mesmo levar aquilo para casa, iam demorar horas. Que foi o que aconteceu aos poucos que decidiram, ainda assim, abastecer-se ali. O Minipreço da rua Miguel Bombarda esteve literalmente bloqueado durante mais de duas horas. Pouco passava das 19h quando tudo começou e já se tinham ido as 21h30 quando, finalmente, os últimos clientes conseguiram pagar o que levavam. O Minipreço fecha às 21h30. Espera-se que esta meia hora extra seja paga a quem lá trabalha. Por vezes, uns sabores arrastam os outros. Neste caso, estes de que falei trazem consigo o da esperança. Afinal, as pessoas existem. E existe o espírito forte e combativo de quem sente que está a fazer a coisa certa. O que deixa antever que um aumento de contestação social, não tanto orientada para a Troika ou outras entidades semi-etéreas mas mais virada para questões do quotidiano, é uma possibilidade ao virar da esquina. Seja em relação a questões laborais, seja em relação a outras, como a habitação, por exemplo. Sente-se nas pessoas – mais do que a vontade – a necessidade de luta. Percebe-se que, com casos concretos em cima da mesa, quem participa sente realmente que está a fazer a diferença. Mas nem toda a refeição foi tão saborosa. Muita gente teve até dificuldades em engolir, quando leu a nota à comunicação social do Sindicato dos Trabalhadores do Comercio Escritórios e Serviços de Portugal, que, pelo seu carácter revelador, passo a transcrever aqui: “A Comissão Sindical CESP/CGTP, na empresa Dia Portugal Supermercados, vem desta forma repudiar quer o boicote pedido quer as acções que outros grupos estão a marcar que nada têm a ver com trabalhadores do grupo ou seus representantes, nem ajudam à resolução dos problemas que afectam os trabalhadores” Enquanto, nuns círculos, se discutia como é que uma nota à imprensa dum sindicato estava reproduzida às dezenas, em papel amarelo, e colada do lado de dentro dum supermercado, noutros elaboravam-se teorias baseadas na assunção de que a CGTP não podia ter feito aquele comunicado. Uma senhora, mais crente no papel da central sindical, chegou a escrever, em cima dos cartazes que também se viam pela rua, qualquer coisa que dizia claramente que aquilo era mentira e que não fora o sindicato que o fizera. Pobre senhora, com que sabor acordará quando confirmar que, realmente, tanto o site como o facebook do CESP têm aquele mesmo texto? E que sabor sentiram os jovens da JCP que lá chegaram, ao verem tais cartazes? Que paladar lhes enchia a boca quando decidiram retirá-los? Saber-lhes-ia a traição? A vergonha? Mas o que me pareceu mais generalizado foi o gosto fétido dum pêssego de pele imaculada e interior podre. Para muitas daquelas pessoas – à excepção, talvez, de quem encara a pertença partidária, ou sindical, como uma questão de fé –, houve uma brecha que se abriu a partir da qual puderam ver o interior do fruto. Um sindicato que devia solidarizar-se com os trabalhadores, afinal, mais do que demarcar-se, repudia aquele acto de solidariedade. Que, entre estar com quem luta pelo direito à greve – porque era basicamente disso que se tratava – e com quem discrimina grevistas, prefere os segundos (de que outra forma se explica que um comunicado de imprensa dum sindicato chegue às mãos das chefias dum Minipreço? O que significa enviar um texto que diz o que os chefes gostam, que diz tanto o que os chefes gostam que até é largamente fotocopiado e afixado por eles?). Muita gente acordará com o sabor desagradável da ressaca. A língua áspera, o palato desfeito. Mas os gostos ruins também servem para valorizar os bons e aquelas bocas, se bem que crestadas pela desilusão, não os esquecerão E amanheceremos mais fortes e conscientes. Alfredo Bom Ano ladroesdegado.tumblr/post/56511993423/solidariedade-in-cgtp-out
Posted on: Fri, 26 Jul 2013 14:20:52 +0000

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