Poeta, cantô da rua, Que na cidade nasceu, Cante a cidade que - TopicsExpress



          

Poeta, cantô da rua, Que na cidade nasceu, Cante a cidade que é sua, Que eu canto o sertão que é meu. Se aí você teve estudo Aqui, Deus me ensinou tudo, Sem de livro precisa Por favô, não mêxa aqui, Que eu também não mexo aí, Cante lá, que eu canto cá. Dentro das coordenadas geo-linguísticas e culturais delimitadas pelo poeta, o canto de Patativa evidencia normas naturais de ensino e aprendizagem, condicionadas à experiência de vida do sertanejo e do poeta que se afirma em leituras de mestres como Camões, Machado de Assis, Olavo Bilac e Guimarães Passos, o ídolo Castro Alves, entre outros (ASSARÉ, 2001). A seca é vista por Patativa do Assaré como um fenômeno cíclico, natural, que teria conseqüências especialmente devastadoras para o sertanejo excluído pelos limites das classes sociais e pela indiferença do próprio homem em relação ao outro. Em sua visão clara, aberta aos valores humanos, tais conseqüências poderiam ser perfeitamente contornáveis, não fosse o descaso pela dor humana, a indiferença daqueles que detém o poder, sustentam e asseguram as diferenças entre irmãos. Por isso mesmo, o papel da literatura e do poeta, rompendo as barreiras do pensamento humano, desconstruindo crenças e crendices, desfazendo nós de superstição e, acima de tudo, abrindo caminhos e veredas do sertão, plantando sementes nas mentes dos homens por um novo pensar sertanejo, conforme define em “Nordestino sim, nordestinado não” (v.19-30): Não é Deus que nos castiga nem é a seca que obriga sofrermos dura sentença não somos nordestinados nós somos injustiçados tratados com indiferença. Sofremos em nossa vida uma batalha renhida do irmão contra irmão nós somos injustiçados nordestinos explorados nordestinados, não. Consciente do seu papel social e com a clareza de pensamento que lhe distinguiu como poeta e como homem, Patativa do Assaré depõe a favor de sua própria arte diante de si mesmo, ao explicar seus versos no poema acima, em Digo e não peço segredo, dizendo para Tadeu Feitosa: “Aí sou eu tirando a superstição do caboclo, viu?” (ASSARÉ, 2001, p.42). Além das marcas de oralidade, no discurso de Patativa do Assaré sobre “A morte de Nanã” tem-se clara a intenção do poeta de sensibilizar o seu público ouvinte/leitor para a impunidade de crimes bárbaros silenciados e banalizados sem constrangimento. Descrevendo cenas de horror da fome na seca de 32 dramaticamente experienciada no interior de sua arte-poética, o poeta revela com maestria e sensibilidade o contextual drama da “vida e morte severina” de uma certa Ana da Silva, que Patativa do Assaré acaba por assumir a paternidade em sua plenitude total, fundindo realidade e poesia no canto popular, de acordo com as três primeiras estrofes de “A morte de Nanã”:
Posted on: Thu, 19 Sep 2013 19:37:48 +0000

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