Política, futebol e religião são, afinal, uma só e mesmíssima coisa: a necessidade de pertencer a um todo que justifique e legitime o que de pior somos capazes, uma espécie de porto de abrigo, um covil que nos acolhe e esconde depois do perjúrio. Não me canso de o dizer, mas ninguém me dá ouvidos. Tivesse eu outra cara e outro nome mais augustos e até o cu me lamberiam, tivesse eu nascido noutro berço e até uma revolução começaria. As alternâncias de poder enfadam-me, não só neste país, como um pouco por todo o mundo. Aqui, PS e PSD, em Inglaterra, conservadores e trabalhistas, nos E.U.A, republicanos e democratas, nos sistemas políticos em geral, democracia e ditadura, e ninguém parece perceber que nada acontece, que estamos em banho-maria há demasiado tempo, que o verdadeiro poder é exercido pelo capital e os políticos não passam de marionetas. Esta nova vaga de movimentos de cidadania não passa de arrufos de namorados, de zangas de comadres, de intriga palaciana. Eu não vou votar, proíbo-me de o fazer. E se me disserem que faço mal, que não estou a exercer um direito tão difícil e corajosamente conquistado no 25 de Abril de 1974, e que, através da abstenção, ponho a democracia em perigo, só me resta sorrir e confessar que é esse, precisamente, o meu objectivo.
Posted on: Sun, 08 Sep 2013 19:41:05 +0000
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