Que revolução quer o Papa Francisco? Na manhã do domingo, 28 - TopicsExpress



          

Que revolução quer o Papa Francisco? Na manhã do domingo, 28 de julho, na missa campal no ofertório, o Papa pediu silêncio.... era um silêncio de envio. Depois, foi dali que ouvimos Francisco dizer enfático aos jovens: “Sejam revolucionários!” E o eco que se ouvia era: “Somos a juventude do papa!” Na entrevista com Gerson Camaroti, Bergoglio voltou a dizer: “jovem que não protesta, não me agrada!” E não apenas fez a apologia de uma revolução, como associou-a com a felicidade, pois após pedir aos jovens para serem revolucionários, completou: “Sejam felizes!” O que tudo isto quer dizer? Que revolução quer Francisco? O discurso mais contundente do Papa talvez tenha sido o que fez aos bispos do CELAM, ainda no domingo à tarde, antes de ir para o encontro com os voluntários. Jamil Chade, no jornal O Estado de São Paulo afirma que “Bergoglio tornou-se Francisco em Roma, mas virou Papa no Rio”. E acrescenta: “o governo de Bento XVI acabou e são as idéias de Francisco que vão marcar o ritmo agora da Santa Sé”. Com a garantia da espetacular popularidade, Francisco se sentiu à vontade em suprimir a menção que faria a Bento XVI, prevista no texto oficial distribuído à imprensa, em sua fala no Teatro Municipal. Estive presente e testemunhei, no entanto, também o jornal O Globo notou a omissão. Tratou-se apenas de um lapso? E por que lembrou aos jornalistas em sua entrevista no avião de que Bento XVI, em 8 de fevereiro, dissera aos cardeais de que o novo Papa estava presente entre eles e prometia obediência? O fato é que enquanto Bento XVI, bem como João Paulo II, se manifestavam publicamente com inteireza cristalina sobre a posição da Igreja de modo especial em relação aos “valores inegociáveis”, Francisco opta pela estratégia “do encontro”, que seria melhor qualificada como “da ambiguidade”, em algumas vezes não de modo simples, como se parece numa primeira impressão, mas sibilino. Foi o que fez, silenciando completamente sobre a questão do aborto na Jornada Mundial da Juventude, e não se expressando tão precisamente como esperado na resposta que deu sobre os gays. De fato, Jesus não condenou a mulher adúltera, porque naquele caso ela estava arrependida, e o Mestre exortou-a a não mais pecar.Tem-se a impressão de que Bergoglio teme os inimigos que deve enfrentar, ou crê que não deve haver enfrentamento algum, por isso recorre à retórica do “diálogo, diálogo, diálogo”, como ressaltou no Teatro Municipal. A novidade de seu discurso aos bispos latino-americanos não foi destacar “a ideologização da mensagem evangélica”, principalmente “à categorização marxista”, já muitas vezes condenada pelo Magistério da Igreja, mas considerar relevante a “proposta das comunidades eclesiais de base”, “na linha de superação do clericalismo e de um crescimento da responsabilidade laical”. O que assusta Francisco, de fato, é o que ele chama de “restauracionismo”. E isso parece querer atingir os mais conservadores. Foi o que afirmou aos cardeais e bispos do CELAM: “Perante os males da Igreja, busca-se uma solução apenas na disciplina, na restauração de condutas e formas superadas que, mesmo culturalmente, não possuem capacidade significativa. Na América Latina, costuma verificar-se em pequenos grupos, em algumas Novas Congregações Religiosas, em tendências para a ‘segurança’ doutrinal ou disciplinar. Fundamentalmente é estática, embora possa prometer uma dinâmica para dentro: regride. Procura recuperar o passado perdido.” Destaca em certos casos a tentação do pelagianismo. Nisso é preciso realmente estarmos atentos e não se deixar sucumbir nos atalhos da heresia. Mas os fiéis católicos – especialmente jovens – anseiam pela solidez doutrinal, porque a sã doutrina é a riqueza que buscam na Igreja portadora da verdade salvífica. Quando Francisco refuta “tendências para a ‘segurança’ doutrinal” estará também tirando o dique que Bento XVI desejou por no relativismo doutrinal vigente e cada vez mais crescente no seio da Igreja? É certo que a Igreja oferece a salvação, e em meio aos tantos ataques (de forças anti-cristãs que atuam de modo sofisticado e sistematizado), o Magistério da Igreja entendeu ser necessário justamente isso: apresentar com segurança a solidez doutrinal, para evitar as conseqüências já conhecidas do relativismo. De fato, a evasão dos fiéis (alguns falam em hemorragia) vinha ocorrendo por conta do afrouxamento moral e doutrinal. Por isso, a questão do aborto, por exemplo (ponta de iceberg explicitada com ênfase na Evangelium Vitae) vinha agregando fiéis católicos com solidez doutrinal e, por isso, com força para fazer frente a “conjura contra a vida” denunciada corajosamente pelo beato João Paulo II na referida encíclica. Mas Bento XVI ficou cada vez mais isolado no combate ao relativismo, até onde está hoje, abandonado. Pois foi o que me dissera um dos peregrinos da JMJ: “O que mais entristeceu Bento XVI foram três coisas: 1. A desobediência dos bispos; 2. A questão da pedofilia; e 3. A hipocrisia religiosa.” É certo que não se deve nunca engessar o Espírito Santo, pois a história da Igreja sempre foi dinâmica. Francisco sabe que a crise da Igreja é grave, gravíssima. E como timoneiro da barca de São Pedro, reconhece que o “discipulado missionário” “acontece em um ‘hoje’, mas “em tensão”. Reconhece ainda as pressões de todos os lados, e sobre algumas até já foi categórico em dizer o que não fará, como a questão da ordenação de mulheres, lembrando a posição definitiva tomada na Ordinatio Sacerdotalis, etc. E sabe também que o campo da fé de hoje está muitas vezes tomado por espinhos e pedras, como bem acentuou em sua homilia na Missa de envio, ressaltando que deve haver um cantinho bom por onde a semente haverá de encontrar a boa terra e germinar para o bom fruto. Acreditamos, neste Ano da Fé, que neste cantinho bom o Espírito Santo haverá de atuar para evitar novos enganos. Mas o afã de reforma parece querer mais e deseja acentuar ainda mais um processo já iniciado, mas até então contido, de protestantização da Igreja Católica. Na contramão disso, quis Bento XVI reforçar a identidade católica da Igreja, daí seu zelo litúrgico, o apreço pelo rito romano, até mesmo pelo latim — pois enganam-se os que consideram tais aspectos como parte de “estruturas caducas”, já que o Evangelho não teria chegado até o século XXI e a todas as nações sem tais contributos, de fecunda “capacidade significativa”. Talvez Francisco queira mesmo ser o primeiro papa “moderno” da Igreja, incorporando em si mesmo mais do que a novidade sempre perene da Igreja, que transcende tudo o que é vão e provisório e se mantém como uma realidade sempre viva? Mas — como leitor de Borges e Hölderlin que é — o Papa Bergoglio parece ele mesmo querer dar o salto para o modo caleidoscópico de ser moderno, pois já não encontra mais sentido e unidade no que parece estar arcaico. Há nisso uma voragem pelo risco: daí deixar-se ficar vulnerável em meio ao trânsito de uma via pública, num carro popular, de vidro aberto, numa cidade marcada pela violência urbana. E tudo no contexto da sociedade midiática e da cultura do espetáculo. Francisco reconhece, ainda em seu pronunciamento aos cardeais e bispos do CELAM, que tanta gente “ficou pela metade do caminho, que se confundiu, que se desiludiu” após o Vaticano II, e que a Igreja precisa “curar tantas feridas”. E indica o caminho da missionariedade proposto por ele mesmo no Documento de Aparecida (2007), e que agora, como Papa, quer fazer acontecer, nesse “tempo de mudança”. Por isso recorre ao jovem, pede para que não tenha medo de ser revolucionário, advoga a “revolução da ternura”, para que “haja sol e luz nos corações”. Mas que revolução quer Francisco? Como a fará? Ainda não sabemos. O Papa Francisco deixou meio que de lado a Presidente Dilma Roussef. Era perceptível a "sem-graceza" dela. Pois sabia o Papa que ela vai sancionar, sem nenhum veto, o PLC3-2013, abrindo ainda mais as portas do Brasil ao aborto. Faria isso com a mesma tranquilidade se há uma semana o Papa em, nosso país, tivesse se pronunciado firmemente em favor dos pobres e indefesos nascituros? A palavra do sucessor de Pedro, aliada a uma atuação vigorosa da Conferência Episcopal poderia ter influído e quem sabe evitado esta decisão. É possível que o Santo Padre não tenha sido devidamente informado da situação brasileira, nesse aspecto, como reconheceu na entrevista a Gerson Camaroti, em que disse que não estava muito por dentro das questões nacionais. Com a sanção, a Presidente Dilma Roussef expressa seu desprezo à Igreja, desprezo também à população brasileira (a expressa maioria é contra o aborto), e desprezo ao Congresso (que aprovou o referido Projeto de Lei sem que os parlamentares soubessem exatamente do que se tratava, do “cavalo de Tróia” que ele representava, sem que houvesse discussão da matéria, nem mesmo emendas, etc). O fato é que não poderia ter havido o silêncio sobre esta questão na JMJ. Com isso se confirma o que há muito sentimos: pesa cada vez mais a cruz na defesa da vida.
Posted on: Fri, 02 Aug 2013 14:15:29 +0000

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