TUDO TEU Você pode ser frágil como o mundo moderno. E forte como o orvalho deslizando sobre a pétala. Você pode ser triste numa noite animada de sábado. E mais feliz que qualquer pessoa na manhã de segunda-feira. Você pode achar inútil tudo o que comprou nos últimos três anos. E se sentir bem com o vazio de uma estante cheirando a mogno novo. Você pode achar estranho não se apaixonar por aquela pessoa bonita demais, perfeita demais, com gestos sensatos demais. E se ver totalmente entregue diante de uma careta, de um cabelo meio desarrumado, de uma blusa meio largada, de uma barba mal feita, de alguém com planos absurdos de ser feliz. Você pode pedir demissão de um emprego certo, de alto salário e com plano de carreira definido se ele não te faz compensar o cansaço com paixão. E abrir um pequeno negócio na beira da praia tendo como capital maior o pôr do sol. Você pode, na multidão, se sentir sozinho. E, sozinho, se sentir multidão. Você pode escalar as montanhas de si mesmo. E cair do décimo andar do mundo de alguém. Você pode ser formal nos feriados. E um hippie na reunião de negócios. Você pode ter religião e ouvir Jimi Hendrix. E pode falar de Deus longe de qualquer doutrina. Você pode tudo. Somos intenção, essência. Somos paixão, falta de ar, sereno e tempestade. Somos doença, cura, dependência e liberdade. Somos fruta caída do pé, estrela guardada no peito, a lua dos casais na estrada. Somos fotografia antiga na cabeceira da cama, lembrança distante e doída de um tempo bom, saudade e renúncia de uma vida sem volta. Somos sobra, falta, copo que transborda, corpo que transmite, coração que transcende. E a coragem absurda de fazer tudo de novo. E a vontade absurda de cometer os mesmos erros. E a viagem absurda de ser um eterno passageiro. Um passageiro de tudo. Tudo o que te preenche. Tudo o que te completa. Todos os erros que te diferenciam. Todas as qualidades adquiridas que não te servem. Tudo o que não diz respeito a ninguém. Tudo que é você e só teu. Tudo o que ninguém é. Tudo o que ninguém jamais conhecerá. Tudo o que ninguém jamais será. Tudo o que te é. Tudo o que te permite sê-lo em sua mais pura vivacidade. Tudo. Tudo o que é você. E você é tudo o que pode sonhar, viver, se entregar. Porque tudo é um precipício vivo em nós. Ithalo Furtado
Posted on: Mon, 16 Sep 2013 20:54:44 +0000
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