acordei teso. uma sensação de rubor na cara. os primeiros raios matinais furavam-me os olhos. acordei cego, havia vozes em torno da cabeça, não, não era nenhuma urgência. gosto de cotovias entrando no sonho antes do acordamento. a tesão incomoda, quando a manhã entra inadvertida lençóis adentro. começo a distinguir alguns vultos. bato uma. lá fora, na escada, sons metálicos, a limpeza semanal do condomínio. 10 horas, mais aliviado, o pequeno almoço escorrendo goelas abaixo, pão duríssimo, passos na calçada, som baço, buzinadelas. a vizinha toca à campainha, há caixotes na escada impedindo a limpeza, nem à vassourada. não seu meus, digo, talvez dos novos, do 1.º, veja-me lá, se faz favor, ainda estou tomando o pequeno almoço. a meio da manhã assaltam-me os assuntos literários, o livro em revisão, o editor está desesperado com os adiamentos sucessivos. a paula liga-me, atendo, está desesperada, qualquer coisa das finanças, uns abutres é o que é, vocifero, com um pedaço de pão entre os dentes e o auricular. abotoo as calças, enfio uma t-shirt amarrotada, calço os chinelos, ponho-me lá fora, vagueio sem objectivo aparente, a cidade de tons amarelos e verdes secos nas fachadas, róseos corpos salientes, sento-me na esplanada do café do bairro, poucos sorrisos, cabelo desarrumado, pouco passava das onze. um cão faminto passa-me junto aos pés, o pelo ralo, sarna, andamos todos com este mal, e falta-nos tempo para consultar o dermatologista. peço um café, bem forte, serve-me a daniela, com poucas palavras (me habituo), leio as notícias nos jornais da mesa do lado, as gordas, para mais não dá. peço o primeiro whisky do dia, no rocks, puro como a luz que me chega de cima, cabeça à torreira. os chineses já abriram o estabelecimento, pouco movimento, o shao, sentado no degrau da entrada palita os dentes, chegam os primeiros atletas para a prova organizada pela junta. Uma fanfarra logo atrás, a dor de cabeça persiste desde a noite anterior e o whisky tarda a fazer o efeito desejado. meio dia, como o tempo passa, um absurdo as horas, é o que é. ninguém lhes concede maior importância que lâminas de barba, duas perfeitas inutilidades. 8-06-2012
Posted on: Sun, 30 Jun 2013 01:05:49 +0000
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