#vempraruaSalvador Éramos uma multidão. Não tenho muita - TopicsExpress



          

#vempraruaSalvador Éramos uma multidão. Não tenho muita noção de quantidade, por isso vou me limitar a dizer milhares de pessoas. Parecia uma festa. Tinha gente, tinha música, tinha bebida, tinha até crianças! Eu era só sorrisos. Até dancei! Estava tudo lindo e pacífico. E assim foi até chegar às proximidades do Dique. Lá a coisa começou a mudar de figura. Começaram os primeiros confrontos. Vi as pessoas correndo em retirada e corri também, “sem saber” o que estava acontecendo. Quando parei e olhei para trás, tudo estava tão longe que eu sentia estar num lugar diferente. Era como se eu assistisse a um filme. Resolvi voltar. A polícia estava nos atacando. Sem “nenhuma” razão, estava nos atacando. Eles começaram. Mais pessoas correndo e eu me perdi do grupo. A fuga dos efeitos das bombas de gás lacrimogêneo me levou até uma ladeira na saída da Estação da Lapa. A festa tinha acabado. Fiquei lá junto com um amigo, mas tentamos descer, por achar mais seguro, e nos perdemos um do outro. Voltei e encontrei o grupo da Residência. Fiquei um bom período no topo da ladeira, só assistindo o conflito. Vendo a polícia, covardemente, atacar as pessoas com tiros, bombas de gás lacrimogêneo e usando a cavalaria. Lá de cima, sentia os efeitos do gás nos olhos, respirava com dificuldade, me embebedava com o vinagre, mas só estava assistindo. Depois de um tempo, desci junto com amigos para procurar os outros residentes. Foi nesse momento que, de fato, senti o que é ser manifestante. Por várias vezes, corri. Corri porque a polícia tinha jogado bomba de gás ou porque a cavalaria estava avançando ou porque a tropa de choque atirando... Não sei. Corria porque a multidão corria. Todos corriam, eu corria também. O único momento em que tive certeza do motivo de minha correria foi quando uma bomba de gás lacrimogêneo caiu em minha frente e outra do meu lado. Eu corria e corria segurando o braço da colega que estava comigo. Estava quase cego. Meu rosto inteiro ardia. A máscara que encharquei de vinagre tinha secado. Naquela hora eu tive certeza de que morreria. Se outra bomba fosse lançada contra a gente eu (acho) não resistiria. Nem sei como descrever a sensação do gás em mim. Acho que todos os poros do meu rosto se dilataram e o líquido começou a sair. Só isso explica tanto suor e tantas lágrimas. Passado isso, o resto foi menos tenso. Reencontramos o pessoal da Residência e voltamos para o Campo Grande. Ficamos lá algum tempo e saímos assim que soubemos que a tropa de choque se aproximava. Ainda bem. Voltamos para casa. Só depois soube que até cães os policiais estavam usando. Ainda não consigo entender o motivo de tamanha violência. Era/é/está sendo uma verdadeira guerra civil. Lançar bombas do helicóptero?! Pra quê? Por quê? Precisava?! Como eu disse antes, tinham até crianças. Acredito que teria sido um protesto pacífico, se não tivéssemos tentado invadir a área da Fifa. Afinal de contas, agora o país é dela. A polícia não atacou só os manifestantes. Todos os moradores dos arredores foram atingidos, o gás se espalha pelo ar. Nunca imaginei que o vinagre me seria tão importante. Estava certo de que haveria conflito (o nosso governador tinha avisado que não teria manifestação), mas não estava preparado para tamanha violência. Agora, meio que, entendo o porquê das depredações e vandalismo. É difícil se manter calmo e racional depois de inalar gás lacrimogêneo ou ser atingido por balas de borrachas sem razões aparentes.
Posted on: Fri, 21 Jun 2013 04:26:45 +0000

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